Título: Dólar cai 1,09% e volta a ficar abaixo de R$2. Bolsa fecha em alta de 0,2%
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 24/08/2007, Economia, p. 28

TREMOR GLOBAL: Para Mantega, é improvável que crise leve mundo à recessão.

BC americano empresta mais US$17,5 bilhões a instituições financeira.

RIO, BRASÍLIA e NOVA YORK. Após registrar queda de até 1,3% ao longo do dia, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) inverteu o movimento e fechou em alta de 0,20%, aos 51.848 pontos, devido à elevação do rating (classificação de risco) dado pela agência Moody"s. Já o dólar caiu 1,09% e fechou a R$1,991, abaixo de R$2 pela primeira vez desde 14 de agosto. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) voltou a injetar US$17,5 bilhões no sistema financeiro.

Segundo Reginaldo Galhardo, da Treviso Corretora, a moeda acompanhou as perdas da Bovespa, em um movimento atípico, já que, como muitos investidores estavam há dias comprando dólares para reduzir sua exposição ao câmbio, acabou sobrando moeda no mercado. No último mês, a divisa acumula alta de 7,21%. O risco-Brasil caiu 0,99% ontem, para 200 pontos centesimais. Desde 23 de julho, o índice tem alta de 19,76%. Nos Estados Unidos, o Nasdaq registrou queda de 0,43%, e o S&P, de 0,11%. O Dow Jones ficou estável.

Em um mês de crise no setor de hipotecas de alto risco dos EUA, a Bovespa acumula perdas de 9,73%. De acordo com Alfredo Coutino, economista sênior para América Latina da Moody"s, o problema de crédito ainda não está resolvido. Por isso, continua, o Fed deve baixar os juros básicos da economia, hoje em 5,25% ao ano, em 0,25 ponto na próxima reunião do comitê, no dia 18 de setembro.

- Os países da América Latina já passaram por fortes ajustes desde o dia 23 de julho. A Argentina foi a mais prejudicada, com queda de 20%. O Brasil chegou a acumular perdas de até 17%, até a última quinta-feira, um dos piores dias da Bovespa. Os mercados vão continuar a ter correções - disse Coutino.

Presidente da Countrywide pede corte de juros nos EUA

Ontem, as bolsas chegaram a abrir em alta. O otimismo ganhou força devido ao anúncio, na véspera, de que o Bank of America, segundo maior banco dos EUA, investiu US$2 bilhões na Countrywide Financial, maior concessora de financiamento imobiliário dos EUA, que sofre problemas de caixa.

Depois, o humor dos investidores azedou quando Angelo Mozilo, presidente-executivo da Countrywide, disse que a crise está longe do fim e que há grandes possibilidades de a economia americana entrar em recessão. Mozilo também pediu que o Fed corte novamente a taxa de redesconto (hoje em 5,75%), que cobra dos bancos em seus empréstimos, para o patamar do juro básico (5,25%). Além disso, o Departamento do Trabalho disse que a economia americana gerou 92 mil empregos em julho, abaixo das 123 mil vagas geradas em junho.

Em meio à crise, o BNP Paribas, maior banco da França listado em bolsa, informou que reabrirá em 28 e 30 de agosto seus três fundos congelados, com cerca de 1,6 bilhão em ativos totais. E Bill Gross, gestor de fundo da Pacific Investment Management Co. (Pimco), disse que a Casa Branca precisa socorrer os milhões de mutuários americanos com hipotecas ameaçadas de execução, segundo informações da CNNMoney.

Rodrigo Lopes, diretor da Banif Nitor Asset Management, acredita que novas instituições financeiras devem apresentar problemas:

- Apesar de algumas boas notícias, o setor já começa a demitir. Só o HSBC e o Lehman Brothers vão dispensar cerca de 1.800 pessoas. No Brasil, ainda há muita gordura para queimar. Alguns papéis subiram muito. Estamos muito dependentes das notícias do exterior.

Mantega: "Nosso mercado interno está bombando"

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que considera muito improvável que o pior cenário para a economia mundial venha a se materializar, ou seja, um freio profundo no crescimento internacional decorrente da turbulência nos mercados. Mesmo que isto venha a ocorrer, sustentou Mantega, o Brasil vai continuar a crescer, porque é o forte mercado interno que está garantindo a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos).

Ele afirmou que o atual cenário de crescimento - são 22 trimestres seguidos de avanço do PIB e 14 de crescimento do consumo interno - "despertou o espírito animal dos empresários", ou seja, "o espírito de ir à luta, ganhar da concorrência, vender mais produtos". Este é outro impulso à manutenção da atividade econômica aquecida.

- O nosso mercado interno está bombando, para utilizar um termo que se usa - disse, afirmando que um crescimento de no mínimo 4% está garantido, independentemente de turbulências externas.

COLABOROU: Henrique Gomes Batista, com agências internacionais