Título: Bolívia mergulha em nova crise institucional
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Fonte: O Globo, 24/08/2007, O Mundo, p. 32

LA PAZ. A Bolívia amanheceu ontem imersa em uma nova e grave crise política e institucional, que ameaça o Poder Judiciário, a Assembléia Constituinte e a tranqüilidade de seus cidadãos. Uma medida aprovada por deputados do partido do governo na quarta-feira, determinando a suspensão de quatro juízes do Tribunal Constitucional (TC), foi rejeitada ontem pelos próprios magistrados e pela oposição. E a Constituinte, com a qual o presidente Evo Morales pretende "refundar o país", está paralisada por tempo indefinido, após manifestantes tentarem invadir o prédio, em Sucre, onde são realizadas as sessões.

A crise foi deflagrada anteontem, quando, após a troca de socos e pontapés entre legisladores no plenário, deputados do Movimento ao Socialismo (MAS) realizaram uma sessão na sede da vice-presidência, em La Paz, aprovando a abertura do processo e a suspensão de quatro dos cinco juízes. Estes se recusam a aceitar a suspensão, decidida sem a presença da oposição. E a sessão do Congresso convocada ontem para eleger novos magistrados foi adiada até quarta-feira, devido a temor de novos confrontos.

- Vamos dar um tempo para que os ânimos se acalmem - disse o vice-presidente boliviano e presidente do Congresso, Álvaro García Linera. - Eles (os juízes) não são deuses, intocáveis e celestiais.

Os juízes são acusados por Morales de prevaricação. Em maio, eles se pronunciaram contra a decisão do governo de indicar quatro juízes para a Suprema Corte. Para o ex-presidente Jorge Quiroga, o governo quer fazer "um linchamento" do tribunal para estabelecer "um regime totalitário".

Comitês cívicos de seis departamentos anunciaram manifestações contra o governo, e a associação nacional de advogados convocou uma paralisação de 48 horas como forma de protesto. Juristas disseram ontem que a sessão realizada na sede da vice-presidência é ilegal.

- Foi uma reunião clandestina - disse o especialista em Constituição Benjamín Miguel.

Deputados constituintes temem de sair às ruas de Sucre

Em Sucre, a situação também é tensa. Os prédios onde se reúnem os deputados constituintes amanheceram praticamente vazios, guardados por policiais da cidade e reforços de outros distritos, enquanto se repetiam protestos nas ruas.

- Não há segurança para a Constituinte funcionar - disse o vice-presidente da Assembléia, Roberto Aguillar, do partido do governo.

Na véspera, manifestantes tentaram invadir o prédio e perseguiram deputados. Eles querem que seja discutida uma proposta para que Sucre, sede do Poder Judiciário, passe a ser a capital plena do país. Aguillar e a presidente da Constituinte, Silvia Lazarte, temem sair às ruas e defendem a transferência do foro para outra região.

Os novos confrontos complicam o cenário político para Morales e colocam em risco um acordo entre os partidos que estende o mandato da Constituinte até dezembro.