Título: Mensalão reúne advogados ilustres no plenário
Autor: Franco, Bernardo Mello e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 25/08/2007, O País, p. 8
Ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias defende dirigentes do Banco Rural.
BRASÍLIA. O julgamento do mensalão reuniu, no Supremo Tribunal Federal, alguns dos mais notáveis - e caros - advogados criminalistas do país. Do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, que defende dirigentes do Banco Rural, a Arnaldo Malheiros, que tenta livrar a pele do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, os 27 advogados inscritos para subir à tribuna formaram uma platéia à parte, nas primeiras filas do plenário do Supremo.
No melhor estilo do cliente, o advogado do deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ), Luiz Francisco Barbosa, deu mostras de possuir uma língua afiada. Em sua sustentação oral, ele não perdeu a oportunidade de fazer referência à reportagem do GLOBO que revelou a troca de mensagens eletrônicas entre os ministros Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski.
Barbosa fez isso na manhã de quinta-feira, quando o ar no plenário ainda estava pesado, em meio ao constrangimento provocado pela divulgação dos diálogos em que Cármen Lúcia e Lewandowski falam sobre o processo, a suposta intenção de voto de um colega e a briga política para indicar o substituto do ministro aposentado Sepúlveda Pertence. Nos intervalos das sessões, o advogado de Roberto Jefferson agitou rodas de jornalistas, contando piadas na entrada principal do Supremo.
Aos 68 anos, o ex-ministro José Carlos Dias não perdeu a oportunidade de demonstrar solidariedade a Cármen Lúcia, que estava visivelmente abatida na quinta-feira. Enquanto os advogados da "bancada" de defesa deixavam as duas fileiras centrais do plenário, Dias abordou a ministra. Quem observou a conversa viu esboçar-se no semblante de Cármen Lúcia o primeiro sorriso do dia.
Ontem, durante o julgamento, Dias não se furtou a entrar em uma briga em nome da categoria. Quando os ministros debatiam o capítulo da denúncia sobre gestão fraudulenta, Cármen Lúcia mencionou um argumento levantado pela defesa em seu voto. Joaquim prontamente soltou a frase polêmica:
- Nem tudo o que é dito em sustentação oral deve ser tomado ao pé da letra.
- Tudo o que é dito aqui é verdade - rebateu o advogado.
- Esse julgamento vai provar o contrário - desafiou o ministro.
Dias diz que nunca trabalhou num julgamento "do porte" do mensalão. Ao fazer as contas de quantos júris e sustentações orais já participou, o ex-ministro da Justiça contou algumas centenas. Indagado se o número não superava mil, respondeu com bom humor:
- Não tenho vocação para Romário.
Dias não quis revelar o valor dos honorários, nem mesmo uma estimativa de quanto um medalhão do direito costuma cobrar para subir à tribuna do Supremo em casos semelhantes:
- Não falo. Já vim de graça para defender um operário.
Em meio a renomados criminalistas, a advogada Roberta Maria Rangel, que defende o ex-deputado Professor Luizinho (PT-SP), foi a única mulher a fazer sustentação oral. Outras colegas até atuam como assistentes, sem subir à tribuna.
- É uma atividade muito masculina, porque envolve políticos - disse ela ontem, referindo-se aos acusados.
Segundo Roberta, que foi advogada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Superior Eleitoral, nas eleições de 2006, a condição de única mulher não a prejudicou em nada:
- Acho que até ajuda. Mulher tem tratamento mais delicado. Os ministros são todos pessoas afáveis.