Título: Defensor de Gushiken deixa tribunal abalado
Autor: Franco, Bernardo Mello e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 25/08/2007, O País, p. 8

Advogada de João Paulo Cunha minimiza denúncia, e o de Marcos Valério comemora exclusão de Tolentino da acusação.

BRASÍLIA. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de abrir processo criminal contra 19 acusados de operar o mensalão provocou reações distintas nos advogados que assistiram ontem à terceira sessão do julgamento. O defensor do ex-ministro Luiz Gushiken, José Roberto Leal, deixou o tribunal de cabeça baixa, dizendo-se abalado. Já o advogado do publicitário Marcos Valério, Marcelo Leonardo, declarou estar contente com a liberação do ex-sócio Rogério Tolentino da acusação por peculato - apesar de seu principal cliente ter sido enquadrado em corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.

- Foi uma decisão injusta. Houve apenas quatro votos técnicos. Gushiken será processado por causa de um depoimento falso - reclamou o advogado do ex-ministro, referindo-se às acusações do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato de que agia a mando de Gushiken.

O próprio ex-ministro divulgou ontem uma nota ao fim da sessão para reafirmar sua convicção de que será inocentado. "Sempre estive e continuo com minha consciência tranqüila: não participei de esquemas ou quadrilhas, não favoreci o desvio de recursos públicos e não descuidei de minhas obrigações legais", diz o texto.

"O senhor Henrique Pizzolato, autor das declarações que convenceram parte da Corte Suprema a votar pela abertura do processo, mentiu perante a CPI quando se referiu à minha conduta, ainda que o tenha feito de maneira oblíqua e pouco clara... Atualmente, movo processo contra o Sr. Henrique Pizzolato por essas declarações, pleiteando dele a devida recomposição moral, em face de todos os desdobramentos a mim prejudiciais que as absurdas declarações dele me causaram", diz nota do ex-ministro.

Na nota, o ex-ministro destacou que o relator do caso no STF, Joaquim Barbosa, declarou ontem que, se fosse o julgamento final não teria como condenar Gushiken. Mas Barbosa sustentou que havia indícios para abrir o processo.

"Isso desmonta a base central da acusação"

O advogado de Marcos Valério ainda comemorou o fato de que alguns ministros do STF teriam sinalizado com a dificuldade em aceitar a denúncia por formação de quadrilha do núcleo publicitário do esquema. O problema é que a denúncia por este crime abrange apenas três indiciados, enquanto o Código Penal define como número mínimo para uma quadrilha quatro pessoas.

- Isso desmonta a base central da acusação. Neste momento, consideramos vitória qualquer coisa que seja excluída da denúncia - disse Marcelo Leonardo.

A advogada do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), Carla Domenico, minimizou os efeitos da abertura de ação penal contra seu cliente:

- Isso é apenas o início de uma nova fase da investigação que já ocorria. Agora o Ministério Público terá a oportunidade de apresentar provas. A defesa entende como manifestamente injusto o recebimento. A denúncia é bastante frágil. Além da falta de descrição do crime, não há elementos de prova.