Título: Renan pode ter mentido em depoimento
Autor: Lima, Maria e Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 25/08/2007, O País, p. 16

Senador alegou que não declarara empréstimo para omitir relação com Mônica, mas já pagava pensão oficialmente.

BRASÍLIA. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pode ter mentido em depoimento reservado aos relatores do seu caso no Conselho de Ética, falta considerada grave no julgamento de processos para perda de mandato por quebra de decoro. Na noite de anteontem , Renan alegou ao Conselho não ter declarado os supostos empréstimos de R$687,5 mil que tomou da empresa Costa Dourada Veículos, nos anos de 2004 e 2005, porque o dinheiro foi usado para complementar despesas oriundas da sua relação, então sigilosa, com a jornalista Mônica Veloso.

O problema é que a versão não bate com a declaração de Imposto de Renda de Renan de 2007, ano base 2006, em que Mônica já aparece oficialmente como beneficiária de pensão para a filha, no montante de R$36.973,50. Como a declaração de 2007, a de 2006, ano base 2005, omite os supostos empréstimos, apesar de a pensão ter sido oficializada no final de 2005.

Renan pode ter praticado, pelo menos, omissão e/ou sonegação de informação. Os relatores Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES) disseram ontem que vão confrontar o depoimento de Renan com suas declarações de Imposto de Renda, para verificar se ele mentiu.

- Se o Renan usou esse argumento, é perigoso e tem que ser melhor avaliado por nós. Se já tinha uma relação pública, inclusive com inclusão da pensão paga à jornalista Mônica Veloso no Imposto de Renda, como pode dizer que não declarou os empréstimos para preservar uma relação que ainda era sigilosa? - disse Casagrande.

A versão de Renan, de que contraiu os empréstimos com o dono da Costa Dourada, seu primo Tito Uchôa, para complementar gastos com Mônica e a filha, contradiz o eixo de sua defesa, de que tinha patrimônio para pagar pensão sem recorrer ao lobista Cláudio Gontijo. O Conselho investiga se Renan tinha renda suficiente para fazer os repasses.

O presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), confirmou a intenção de determinar a votação secreta do caso Renan no Conselho:

- O plenário é soberano. Ali, nas votações de perda de mandato, a legislação determina que elas sejam secretas. Entendo que em qualquer outro órgão também deve ser secreta.