Título: Diretora sai, mas cerco à Anac continua
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Fonte: O Globo, 25/08/2007, O País, p. 17

Jobim dá mostras de que espera outras demissões na agência.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A saída da diretora Denise Abreu não acabará com o cerco à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O sinal mais claro foi a decisão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de manter um processo administrativo sobre a conduta da Anac no envio de um documento sem valor legal à Justiça Federal de São Paulo. Ontem, depois de receber de Denise sua carta de renúncia, Jobim mostrou que quer a troca de outros diretores da agência.

Ele recebeu no final da tarde o ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, para analisar se juridicamente era possível manter o processo. A avaliação é de que a Anac passará por um "segundo tempo". Como os diretores de agências têm mandato, só podem sair por renúncia, decisão judicial ou por serem alvo de improbidade administrativa.

No início da tarde, Jobim dera declarações fortes sobre a situação de Denise. Disse que o problema era que a ex-diretora entregara o documento sobre pousos e decolagens em Congonhas à juíza Cecília Marcondes e que não se importava com sua resistência em deixar o cargo. Horas depois, Denise se demitiu. Mas o tom da carta de Denise foi considerado arrogante na Defesa, já que ela comunica que falará pessoalmente com o presidente Lula. Jobim despachou a carta ontem mesmo ao presidente.

"Ela atrapalhava as investigações"

Duas horas antes da demissão de Denise, a procuradora da República Inês Virgínia Prado Soares pedia seu afastamento da Anac por 60 dias, para apuração das suspeitas de improbidade administrativa na agência. Para a procuradora, Denise "atrapalhava" as investigações.

- Ela já atrapalhou anteriormente - disse a procuradora, referindo-se à atuação de Denise à suspensão de pousos e decolagens de Fokker 100 e Boeings em Congonhas, em janeiro.

A procuradora investigação suposta falsidade ideológica do documento IS-HRBA 121-189, entregue por Denise à desembargadora Cecília Marcondes. Com base no documento, apresentado como norma de segurança, ela concedeu liminar que liberou Congonhas para pousos e decolagens. A procuradora já ouviu Cecília, que considerou Denise "contundente". A então diretora afirmara que as normas eram adotadas pelas empresas aéreas sem dificuldade.

- Isso atrapalhou o julgamento da desembargadora- disse Inês Virgínia.

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