Título: Senadores apontam a influência da votação no Supremo no resultado
Autor: Damé, Luiza e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 06/09/2007, O País, p. 4

Casagrande lembra que Renan ainda é alvo de três representações.

BRASÍLIA. A decisão do Conselho de Ética pela cassação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), redefiniu a posição de aliados e reforçou o discurso dos defensores do processo por quebra de decoro. Enquanto a tropa de choque de Renan tentava minimizar a derrota, o outro lado enfatizava que o placar expressivo pela cassação deveria servir como um alerta ao Senado. Um dos relatores do processo, Renato Casagrande (PSB-ES), fez um apelo contundente aos colegas, ressaltando que será grande o desgaste do Senado com uma eventual absolvição de Renan, especialmente no momento em que a sociedade viu o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar denúncia contra os 40 acusados de participar do mensalão.

- Estamos dando ao plenário um instrumento para que se reaproxime da sociedade. Poderá decidir por essa reaproximação ou aumentar o fosso que o separa da população. O Senado vai ficar em seu pior momento se não resolver isso até quarta-feira, com a aprovação do relatório. Renan vai continuar na presidência, com outras três representações para serem votadas. A crise não terá prazo para terminar - advertiu Casagrande.

- O clima das ruas e do Supremo começa finalmente a penetrar no Senado. Deu para constatar nos corredores e nas votações - disse Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). - Demonstra que houve uma modificação em favor da ética, já que aumentou o placar em favor da cassação. O plenário do Senado deveria saber interpretar os recados do Supremo, do Conselho e das ruas.

Voto petista agora é dúvida no plenário do Senado

Outro relator do processo, Almeida Lima (PMDB-SE), rebateu o argumento de Casagrande e afirmou que a votação do Conselho foi política.

- Este foi um veredito político - observou.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), lembrou que a liberação do voto dos petistas, que resultou na única surpresa da decisão do Conselho - o voto contra Renan de João Pedro (AM) - pode dificultar as coisas para o presidente do Senado.

- Significa que o PT vai votar inteiramente pela cassação? - questionou o tucano.

No PT, houve tensão com os votos em favor da cassação de Renan no Conselho. Eduardo Suplicy (PT-SP) chegou a apostar numa tendência do partido, com o convencimento de João Pedro (PT-AM). Mas a líder, Ideli Salvatti (SC), foi cautelosa e mostrou preocupação com a possibilidade retaliações ao governo por parte do PMDB.

César Borges (DEM-BA), alertou para a necessidade de decidir o destino de Renan para que o Senado saia do foco da opinião pública:

- Nessa altura do campeonato, é melhor um fim horroroso do que um horror sem fim.

José Nery (PSOL-PA), autor da representação contra Renan, fez alerta semelhante.

- A mudança dos votos no plenário, depois desse resultado avassalador de hoje, será uma covardia grande com o Brasil.

Hoje, a Polícia Federal interrogará o advogado Bruno de Miranda Lins, ex-marido de Flávia Garcia, assessora de Renan. Em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, ano passado, Miranda acusou o ex-sogro, Luiz Carlos Garcia Coelho, de envolvimento num esquema de arrecadação em ministérios controlados pelo PMDB, para Renan. O dinheiro seria obtido com negócios de empresas e bancos com a Previdência e a Saúde.