Título: Planalto tenta manter distância estratégica de julgamento de Renan
Autor: Damé, Luiza e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 06/09/2007, O País, p. 4

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: "Governo não pode ajudar", afirma Mares Guia

"É um problema do Congresso Nacional", diz presidente, sem defender aliado.

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto fez questão ontem de manter distância estratégica do julgamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por quebra de decoro. Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) afirmaram que o julgamento é da competência do Senado e não diz respeito ao governo. Desta vez, Lula evitou defender o aliado, como fez em outras oportunidades.

- Tem um processo. Eu soube do resultado da Comissão de Ética, foi para a Comissão de Justiça, depois vai para o plenário. Eu acho que está sendo julgado onde precisa ser julgado: dentro do Congresso e do Senado. Acho que as regras que foram estabelecidas pela sociedade brasileira valeram ontem, valem hoje e valerão amanhã, e todos nós estamos subordinados a essas regras que nós mesmos estabelecemos - afirmou Lula.

Depois de participar de solenidade com as centrais sindicais, o presidente disse não estar preocupado com os reflexos do julgamento de Renan nas votações de interesse do governo no Senado:

- É um problema do Congresso Nacional. Há uma acusação, e o Renan tem mostrado provas. Essa prova é analisada dentro da Comissão de Ética, da Comissão de Justiça e do plenário. Vamos ver a decisão.

Mares Guia: "Seria até um desrespeito se fôssemos influir"

Mares Guia, que passou a tarde na Câmara, onde recebeu deputados da base governista. Ele afirmou que, apesar de Renan ser um aliado do Planalto, não há como interferir em favor dele na votação em plenário.

- O governo não pode ajudar. Esse é um assunto específico do Senado, é um outro poder. Seria até um desrespeito se fôssemos influir, nos intrometer nisso. Em que pese o apreço que temos por ele, é uma questão específica do Senado. Temos apenas que acompanhar - disse o ministro.

Ao deixar a liderança, Mares Guia comentou a decisão do Conselho de Ética do Senado:

- Fiquei recebendo 12 deputados e apenas estou sabendo agora do resultado, que, segundo já se comentava, era o esperado e que seria levado ao plenário com o voto negativo.

Do mesmo partido de Renan, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que esteve em Brasília ontem, também afirmou que o assunto é da alçada do Senado e preferiu não entrar no mérito do julgamento. Ele argumentou já ter problemas suficientes para resolver no governo do estado.

- Eu deixo para o Senado resolver essa questão, como tem acontecido. Cabe ao Senado analisar esse tema. Seria muita pretensão minha entrar num tema que os senadores estão acompanhado melhor do que eu, que estou cuidando de uma loja tão problemática como o Estado do Rio - afirmou o governador.