Título: Renan agora tentará até sessão secreta no plenário
Autor: Camarotti, Gerson e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 06/09/2007, O País, p. 5

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Aliados usam a tática do medo

Ameaça de retaliação a senadores e ao governo são armas.

BRASÍLIA. A derrota expressiva no Conselho de Ética levou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a adotar uma estratégia ousada de última hora para evitar a cassação no plenário, na próxima semana. Ao decidir, ontem, que vai partir para o tudo ou nada, a tropa de choque de Renan dividiu a estratégia em três ações principais: fazer a sessão no plenário totalmente secreta, não só o voto, mas também os debates; expor a tática do medo, com o discurso de que ele vai ganhar e, permanecendo na presidência, muitos vão continuar dependendo dele, que tem o controle da caneta; e, por último, ameaçar o PT, e o presidente Lula, indiretamente, dizendo que o governo ainda vai precisar dele e do PMDB para votações de interesse do Planalto.

"Sessão secreta é fundamental para um ambiente favorável"

A decisão foi tomada com a percepção de que o placar do Conselho poderia contaminar o plenário na próxima semana. A nova manobra de Renan tem como objetivo evitar a pressão da opinião pública sobre os senadores que querem votar pela sua absolvição. Até então, havia dúvida no grupo de Renan sobre a conveniência de fazer uma votação completamente secreta.

- A sessão secreta é fundamental para criar um ambiente favorável, sem a pressão da mídia. Isso porque muito senador fica constrangido quando uma sessão como essa passa a ser transmitida ao vivo - confirmou Gilvam Borges (PMDB-AP).

A Constituição determina apenas o voto secreto, mas aliados de Renan devem usar como argumento o precedente da votação que cassou o ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF), em 2001, que foi totalmente secreta. Com isso, nem assessores poderiam participar da sessão, à exceção apenas da secretária-geral da Mesa, Cláudia Lyra.

- Tudo será secreto na votação em plenário. Já existe precedente para isso - disse Wellington Salgado (PMDB-MG).

Renan, que foi para casa no fim da tarde, também deve trabalhar com o medo dos colegas. Ele tenta demonstrar que escapará no plenário e, assim, continuará com a poderosa caneta de presidente do Senado por mais um ano e três meses. A estratégia já está em prática. Todas as demandas de senadores que chegam à Mesa são encaminhadas a Renan, que as despacha pessoalmente. São favores que vão desde uma viagem internacional até a nomeação de assessores para gabinete.

O grupo de Renan também deve cobrar do Palácio do Planalto a lealdade do PT. Preocupado com a posição do partido no Conselho, pela cassação, Renan resolveu agir em duas frentes: conseguir pelo menos dez votos entre senadores do PSDB e DEM, para compensar as baixas entre os petistas, e ameaçar o governo em votações de interesse do presidente Lula.

- O PT tem que pensar na própria sobrevivência, já que recorre ao PMDB para tudo. Chamo isso de operação camaleão: o PT vai mudar de cor dentro do plenário por questão de sobrevivência - afirmou Gilvam Borges, convencido da vantagem de Renan no voto secreto.

A tropa de choque do PMDB incomodou ao PT. A líder do partido, Ideli Salvatti (SC), evitou prever o comportamento da bancada, mas João Pedro (PT-AM), que mudou o voto ontem, reagiu:

- Vai sobrar para o PT essa conta? Somos apenas 12 senadores de um total de 81.

Senador telefonou durante sessão pedindo votação rápida

Renan acompanhou parte da votação do Conselho do seu gabinete, na Presidência do Senado. Telefonou para Almeida Lima (PMDB-SE) durante a sessão para pedir pressa. A percepção dos aliados de Renan é de que não é mais conveniente protelar a votação em plenário, pois Renan começa a perder apoio com o desgaste.

- O Renan me ligou e pediu para não polemizar. Ele queria agilizar a sessão, e uma votação rápida - confidenciou Almeida Lima (PMDB-SE).

Gilvam Borges contou que, à tarde, Renan estava otimista:

- Ele disse que vai virar o jogo. Acha que tem uns 15 votos de frente no plenário. Dando um desconto (o da traição), ele deve ter uns sete.