Título: China exposta à crise
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 25/08/2007, Economia, p. 37

Bancos chineses têm US$13 bi em "subprime". Brasil se recupera com dados dos EUA.

Os temores com a crise de crédito nos mercados globais afetaram ontem a Ásia, depois que o Banco da China, o segundo maior do país, revelou uma enorme exposição em papéis lastreados em hipotecas de alto risco (subprime). O banco estatal chinês e sua subsidiária em Hong Kong, o BOC Hong Kong, têm em carteira US$11,25 bilhões - o maior valor já divulgado por uma empresa asiática. Somado ao US$1,6 bilhão do DBS Group Holdings, de Cingapura, o total é de quase US$13 bilhões.

A notícia preocupa os investidores porque mostra que os bancos da região, que vêm evitando riscos desde a crise asiática, há uma década, não são tão imunes quanto se pensava ao subprime. Isso fez as ações do Banco da China fecharem em queda de 5,38% na Bolsa de Hong Kong, após caírem 8% durante o pregão. Os papéis do BOC recuaram 4,09% e os do DBS, 1,46%.

As bolsas caíram, de Sydney (1,02%) a Seul (0,47%). O Nikkei, de Tóquio, recuou 0,41%, mas conseguiu fechar a semana em alta de 6,4%, o maior ganho em quase cinco anos. Já Xangai subiu 1,49%, ao patamar recorde de 5.107 pontos. Segundo analistas, isso foi reflexo do otimismo da véspera, quando o índice passou dos 5 mil pontos pela primeira vez, impulsionado por bons resultados corporativos. Operadores não acreditam que o governo tomará medidas para esfriar o mercado a curto prazo e prevêem que a bolsa fechará o ano em torno de 5.500 pontos.

- O mercado, nós inclusive, ficou surpreso ao ver que o Banco da China tem uma grande exposição a ativos americanos lastreados em subprime - disse Samuel Chen, analista do JP Morgan.

Segundo Binay Chandgothia, diretor de Investimentos da unidade da Principal Asset Management em Hong Kong, a exposição do Banco da China a subprime deve ser a maior entre instituições financeiras chinesas.

Bovespa sobe 2,22% e dólar recua 2,36%

Já os mercados de Brasil, Estados Unidos e Europa foram beneficiados pelos bons indicadores econômicos americanos divulgados ontem. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) encerrou em alta pelo sexto dia consecutivo. Ontem, o pregão fechou com valorização de 2,22%, aos 52.997 pontos, após cair 0,88% pela manhã. Na semana, a alta chega a 9,14%, após a queda de quase 9% em 16 de agosto, o pior nível desde o 11 de Setembro.

Já o dólar continuou abaixo dos R$2, fechando em baixa de 2,36%, cotado a R$1,944. É o menor valor desde 13 de agosto. Na semana, a moeda acumula queda de 4,09%. Com a melhora no cenário, o risco-Brasil recuou 0,5%, para 199 pontos centesimais, e acumula queda de 4,32% na semana.

No entanto, apesar da melhoria durante a semana, analistas reforçam que os problemas no mercado de subprime americano estão longe de ser resolvidos. Por isso, a volatilidade vai continuar nas próximas semanas, e as economias de vários países vão continuar perdendo. Especialistas estão de olho na reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em 18 de setembro, para decidir se corta ou não a taxa básica de juros da economia, hoje em 5,25% ao ano.

De acordo com Sidnei Moura Nehme e Francisco Gimenez, da NGO Corretora, o "certo alívio enganoso" nos mercados é reflexo das atuações dos bancos centrais, que injetaram dinheiro para aumentar a liquidez no sistema financeiro. Segundo Nehme, o Fed não deve reduzir os juros, pois não há sinais de efetiva contaminação na economia real:

- É fora de propósito imaginar que o Fed tenha alguma atitude de socorro aos investidores especuladores, sendo a sua preocupação a economia real e a liquidez do sistema financeiro para dar curso aos negócios.

Nos EUA, o movimento de queda no início do pregão se dissipou ao saírem os dados de vendas de casas novas: alta de 2,8% no mês passado frente a junho. O mercado esperava queda de 1%. O governo também informou que as encomendas de bens duráveis em julho avançaram 5,9% - a maior alta desde setembro de 2006 - em relação ao 1,4% de junho.

Economista vê falta de más notícias

Assim, o Nasdaq fechou em alta de 1,38%. Dow Jones e S&P também avançaram: 1,08% e 1,15%, respectivamente. As bolsas da Europa reagiram positivamente aos números americanos. Em Londres, houve ganhos de 0,37%, assim como em Paris, onde a bolsa subiu 0,83%.

Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica, não se pode achar que a crise passou só porque as bolsas estão subindo. As altas, continua, refletem apenas a falta de más notícias:

- Apesar de o problema no subprime não estar resolvido, já temos uma indicação de que a economia americana vai crescer porque houve aumento nas encomendas. Em relação ao setor imobiliário, o mais importante sai na segunda-feira, quando serão divulgados os dados de vendas de casas usadas, que respondem por 75% dos negócios no setor.

(*) Com agências internacionais