Título: Apesar da crise, BC mantém projeção para avanço do PIB este ano em 4,7%
Autor: Rodrigues, Lino e Carvalho, Ana Paula de
Fonte: O Globo, 25/08/2007, Economia, p. 38

Para ex-diretor do BC, turbulência atual não tem "proporções bíblicas".

Apesar das turbulências nos mercados financeiros, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou ontem que a instituição deve manter a projeção de crescimento do país em 4,7% em 2007. Segundo ele, que encerrou ontem o IX Seminário Anual de Metas para Inflação do Banco Central do Brasil, não há, até o momento, perspectivas de uma revisão para baixo.

Para Meirelles, a economia brasileira é resistente e impulsionada pela demanda interna. Ele avalia que é prematuro dizer que a crise financeira, impulsionada pelo mercado de crédito imobiliário de alto risco dos EUA, chegou ao fim. E também considera que não é possível prever se haverá redução da demanda nos EUA.

- Uma recessão muito forte nos EUA pode afetar o Brasil. Mas isso é prematuro. Está claro que deve haver certa desaceleração na economia americana - disse Meirelles.

O seminário do BC contou com a participação também do economista americano Edmund Phelps, Prêmio Nobel em 2006. Em sua apresentação, ele argumentou que a taxa de juros real não é uma apuração mecânica, mas sim influenciada por perspectivas futuras. Indagado sobre a diferença entre a meta de inflação do governo (4,5%) e a expectativa do mercado (4%), Phelps disse que o BC convida as pessoas a terem uma expectativa maior em relação à taxa.

- Mas essa é uma questão do governo - desconversou.

Reservas cambiais blindam economia brasileira

O economista-chefe para a América Latina do UBS Pactual e ex-diretor do BC, Eduardo Loyo, considera que foi sábia a estratégia de acúmulo de reservas cambiais adotada pelo banco. Esse seguro em dólares, que chega a US$160 bilhões, disse ele, está fazendo com que o Brasil sofra impactos menos violentos da crise dos mercados do que outros emergentes.

- Não acredito que essa crise possa provocar uma recessão, assim como alguns vêm defendendo. Não estamos vivendo as trombetas do fim do mundo - comentou Loyo, convencido de que a turbulência internacional não é uma crise de "proporções bíblicas". Segundo ele, o mercado doméstico será a grande força motriz do país, nesse cenário de instabilidade internacional.

O economista e pesquisador Márcio Garcia, da PUC-Rio, apresentou uma simulação, durante o evento, na qual mostrou que a inflação tende a variar pouco em qualquer cenário de crise, graças ao volume de reservas acumulado pelo país.

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