Título: Menos sedentários
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 05/04/2009, Brasil, p. 12

Ministério fecha pesquisa que mostra um crescimento contínuo dos brasileiros preocupados com a forma. Entre 2007 e 2008, o número de pessoas completamente avessas a atividades físicas caiu de 29,2% para 26,3%

Daniela Leite: a funcionária pública tomou a decisão de começar a malhar e de equilibrar a alimentação Mesmo com toda a correria do dia a dia ¿ que envolve compromissos profissionais e educacionais, além das tarefas domésticas e outras responsabilidades da vida moderna ¿, é possível perceber que o brasileiro está cada vez mais preocupado com a saúde e a forma física. Em 2008, 16,4% da população eram considerados ativos, de acordo com as recomendações da Organizações Mundial de Saúde (OMS). Em 2007, essa taxa ficou em 15,5% e, em 2006, em 14,9%. O aumento do número de praticantes de atividades físicas durante o lazer vem acompanhado com a redução, de forma mais acentuada, do percentual de sedentários. Pelo menos 26,3% encontravam-se nessa condição em 2008. No ano anterior, eram 29,2%. Apesar da ligeira mudança de hábito, a maioria (57,3%) pratica atividades físicas insuficientes e irregulares (leia quadro) ¿ são os chamados atletas de fins de semana. Os números fazem parte da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel).

A inatividade física é responsável por 22% dos casos de doença isquêmica do coração e por 10% a 16% dos casos de diabetes e de cânceres de mama, cólon e reto, segundo estimativas da OMS. ¿Várias doenças não transmissíveis podem ser prevenidas com a prática regular da atividade física. Por isso a importância da promoção regular de exercícios e alimentação saudável, e da redução do consumo do álcool e do tabaco¿, lembra o diretor do Departamento de Análise de Situação de Saúde do Ministério da Saúde e um dos coordenadores do estudo, Otaliba Libânio.

Realizado sob encomenda do Ministério da Saúde, o estudo entrevistou 54 mil pessoas de todas as classes sociais a partir dos 18 anos, entre abril e dezembro de 2008. O levantamento foi feito nas 26 capitais e no Distrito Federal. Os dados mais recentes da pesquisa, que ocorre desde 2006 e está em sua terceira edição, revelam que os homens (20,6%) praticam atividade física com mais frequência do que as mulheres (12,8%). Entre o sexo masculino, a faixa etária mais ativa está entre os 18 e os 24 anos (31,3%), taxa que declina a 15,1% entre os 45 e 54 anos.

Entre o sexo feminino, porém, a situação mais favorável é encontrada na faixa dos 35 a 44 anos (14,7%). O resultado mais crítico está entre as mais jovens (18 a 24 anos): apenas 10,8% praticam atividade física com regularidade. ¿Em ambos os sexos, quanto maior a escolaridade, maior o percentual de sedentarismo¿, revela Deborah Malta, coordenadora-geral da área de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do ministério e uma das coordenadoras da Vigitel.

Guerra Sedentária há anos, a funcionária pública Daniela Leite, 40 anos, decidiu encarar a guerra contra a balança e começou a frequentar, desde sexta-feira, uma academia no Sudoeste, região próxima ao seu trabalho. A estratégia foi adotada para evitar perda de tempo e desgaste no trânsito. Moradora da Asa Sul, ela pretende perder 20kg dos seus 90kg atuais nos próximos meses com a prática de musculação e de exercícios aeróbicos. ¿Para evitar a interrupção nos treinos, decidi fazer um pacote trimestral¿, conta Daniela, que também procurou um nutricionista para equilibrar sua alimentação e reduzir o consumo de doces. Ela admite que além de saúde, o seu objetivo é estético.

De acordo com Lilian Passos, supervisora da Runway, uma das maiores redes de academias da cidade, pelo menos 60% dos 3 mil alunos da unidade do Sudoeste vão abandonar a rotina até o fim do ano. ¿A rotatividade é muito grande. Quando um decide interromper os treinos, outro se matricula. Mas é nessa época do ano, depois do carnaval, que as pessoas sentam e traçam seus objetivos de vida¿, afirma.

Entre todas as capitais, Palmas (21,5%) é a cidade onde mais se pratica atividade física com frequência, seguida por Belém (20,7%), Boa Vista (20,5%), Macapá (20,3%) e Brasília (20,1%). O curioso é que no ranking oposto ¿ o do sedentarismo ¿ as cinco primeiras colocadas são capitais nordestinas. Natal encabeça a lista com taxa de 32,3%. Na sequência, Recife (32%), João Pessoa (31,1%), Maceió (30,2%) e Aracaju (29,3%).

A OMS considera suficiente a prática de 30 minutos diários, por pelo menos cinco dias na semana, de atividade leve ou moderada; ou 20 minutos diários de atividade vigorosa, em três ou mais dias da semana. O órgão internacional considera práticas leves a caminhada, caminhada em esteira, musculação, hidroginástica, ginástica em geral, natação, artes marciais, ciclismo e voleibol. Já as vigorosas são corrida, corrida em esteira, ginástica aeróbica, futebol, basquetebol e tênis.

Plano nacional Em todo o país, 450 municípios que integram a Rede Nacional de Práticas Corporais comemoram hoje o Dia Mundial da Atividade Física com eventos gratuitos. No Rio de Janeiro, os ministros da Saúde, José Gomes Temporão, e do Esporte, Orlando Silva, apresentam o Plano Nacional de Atividade Física. Por meio de ações de promoção da saúde nos estados e municípios, a intenção do programa é reduzir o número sedentários e estimular a prática regular de exercícios por meio de parcerias entre governo, escola, empresas privadas, mídia, entidades científicas e municípios.