Título: Procuradores encontram operações suspeitas
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 26/08/2007, O País, p. 4

MENSALEIROS NO TRIBUNAL: Iris Rezende movimentou R$3,88 milhões só em outubro de 2004, quando se elegeu prefeito.

Investigações levaram a transações financeiras atípicas envolvendo 13 políticos; seis delas no Banco Rural em Maceió.

BRASÍLIA. À caça de dados para abastecer a denúncia contra os mensaleiros, os procuradores da República que investigaram o caso tropeçaram em uma série de operações financeiras consideradas suspeitas e que resultaram na abertura de uma investigação. Aparentemente, elas não guardam relação com o esquema de compra de apoio político, mas têm as digitais do empresário Marcos Valério. Em um intervalo de menos de um ano, 13 políticos movimentaram mais de R$12 milhões em condições que levaram o Banco Central a enviar alertas de operações atípicas ao Ministério Público Federal.

Salta aos olhos no relatório sigiloso o fato de que nove dos 13 comunicados se referem a operações feitas em agências do Banco Rural, sendo seis delas em Maceió, Alagoas. Em um dos casos, José Maurício Tenório, candidato pelo PTB a prefeito da cidade de Campo Alegre, sacou R$190 mil na boca do caixa do Rural de Maceió. A retirada aconteceu no dia 1º de outubro de 2004, último dia útil antes da eleição.

Na conta em seu nome naquela agência, Tenório movimentou, apenas em outubro de 2004, R$390,5 mil. No mês anterior, ainda mais: R$440,3 mil. Na época, sua renda mensal era de R$18,5 mil. Também em Alagoas, o Banco Central detectou movimentações atípicas na conta do deputado estadual Celso Luiz Tenório Brandão (PL), que também possui conta no Rural. Entre junho e outubro de 2004, ele movimentou R$2,64 milhões, mesmo ganhando salário de R$6 mil, segundo o relatório.

Da lista de operações suspeitas, também consta o nome do ex-senador e atual prefeito de Goiânia, Iris Rezende. Titular de uma conta no Rural na cidade que administra, Rezende movimentou R$3,88 milhões apenas em outubro de 2004, mês em que se elegeu. O caso já foi noticiado e Rezende, à época, disse que os recursos são explicados por uma venda de cabeças de gado, que lhe rendeu em torno R$2 milhões. O prefeito disse criar entre 12 mil e 15 mil bois.

Prefeito de Paracambi usava cofres de aluguel em SP

O Banco Central também emitiu um comunicado no dia 19 de dezembro de 2002 alertando que o prefeito de Paracambi, André Ceciliano, estava utilizando, sistematicamente, cofres de aluguel numa agência do BankBoston, em São Paulo. O relatório observa: "Cliente com utilização sistemática de cofres de aluguel. Várias visitas durante o período de um mês". Através de sua assessoria de imprensa, Ceciliano disse estranhar a informação e afirmou que não possui conta neste banco.

O relatório do Ministério Público, assinado por três peritos, termina recomendando ao órgão que dê continuidade às investigações.