Título: Amiga convenceu Pertence a sair mais cedo
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 26/08/2007, O País, p. 8

MENSALEIROS NO TRIBUNAL: Possível sucessor de ex-ministro, Direito contaria com apoio de Cezar Peluso e Tarso Genro.

Ao seguir conselho da influente Vera Brant, ministro abriu caminho para acirrada luta pela sucessão no STF.

Por trás da troca de e-mails entre os ministros Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), aparecem a disputa interna pelo poder e a discreta figura de uma mulher influente, amiga de presidentes, ministros e outras estrelas da política nacional. Empresária do setor imobiliário de Brasília, aonde chegou em 1960, a mineira Vera Brant foi quem convenceu o ministro Sepúlveda Pertence a adiantar a sua saída do STF na semana passada, antes de fazer 70 anos (em novembro), abrindo caminho para uma das mais acirradas lutas pela sucessão de um ministro da Corte Suprema do país.

Dos ministros do STF que freqüentam a casa de Vera, Pertence é o mais próximo. Desde Juscelino Kubitschek, de quem foi confidente, a empresária sempre procurou manter-se afastada dos conchavos políticos. Amigos contam que Vera abriu uma exceção, durante um jantar em sua casa, ao sugerir a Pertence a aposentadoria antecipada. Como o mais forte candidato à sucessão, o ministro Carlos Alberto Direito, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), fará 65 anos em 8 de setembro (e a lei proíbe a promoção a ministro de quem tem 65 anos de idade ou mais), Sepúlveda acolheu a ponderação da amiga para não ser acusado de impedir a indicação.

Na troca de mensagens, Lewandowski e Cármen Lúcia tratam do tema da sucessão ao sugerir que os atos de aposentadoria de Pertence e a nomeação de Direito seriam consecutivos. Lewandowski chegou a insinuar que a nomeação, na semana em que o STF decidia se acolheria ou não a denúncia contra os mensaleiros, seria algo de barganha política - "Ah, agora sim. Isso só corrobora que houve uma troca. Isso quer dizer que o resultado desse julgamento era realmente importante", escreveu.

Lobby a favor de Direito inclui Jobim e Gilmar

Direito conta ainda com o apoio do PMDB, mas a saída antecipada de Pertence não lhe assegura a vaga. Além de ter o nome exposto pelo descuido dos ministros, ele disputa a sucessão com pelo menos mais dois nomes do Rio: o também ministro do STJ Luiz Fux e o criminalista e ex-governador Nilo Batista. Tudo indica que a escolha deverá ser resolvida logo.

Será a sétima nomeação de ministro do Supremo feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A seu favor, Direito conta com um lobby fortíssimo. Trabalham abertamente por sua candidatura o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o colega do Supremo Gilmar Mendes. Recentemente, o grupo recebeu o reforço de Eros Grau, cuja ambição hoje é tornar-se membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Como Direito foi secretário estadual de Educação no Rio, com amigos na área cultural, não faltaria oportunidade para retribuir o apoio.

Nenhum outro candidato exibe mais força do que Direito, que também conta com a simpatia de pelo menos mais um ministro do STF, Cezar Peluso, além do ministro da Justiça, Tarso Genro, e do ex-deputado federal Sigmaringa Seixas.

Mas Luiz Fux não está fora do páreo. Embora não se oponha a Direito, o governador do Rio, Sérgio Cabral, não esconde sua simpatia pelo concorrente, que também conta como aliada a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a família Zveiter, formada por advogados e magistrados. Nilo Batista corre por fora, mas não entusiasma tanto Lula.