Título: DEM e PPS sofrem assédio de partidos governistas
Autor: Braga, Isabel e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 26/08/2007, O País, p. 10

Partido do vice José Alencar, o PRB é um dos que mais investem para atrair deputados; PP, PR e PTB pretendem aumentar bancadas até 30 de setembro.

BRASÍLIA. Impulsionada pela aprovação do projeto que anistia os infiéis desta legislatura e estende o prazo de mudanças partidárias até 30 setembro, a negociação política para o troca-troca partidário se intensificou nos últimos dias, em todos os partidos. As primeiras investidas mostram que há um forte movimento de saída do DEM e do PPS, partidos de oposição, que levaria à ampliação das bancadas do PP, do PR e do PTB, partidos governistas.

A oposição também está sofrendo ação intensa de um novato - o minúsculo PRB, do vice José Alencar, do ministro Mangabeira Unger e do senador Marcelo Crivella (RJ). Se conseguirá atrair deputados, mesmo sem tempo de TV, ainda não se sabe. O partido elegeu dois deputados, está com três. O PRB tem um número eleitoral atrativo - o 10 - e não tem o estigma dos partidos ligados ao mensalão.

Segundo parlamentares, Alencar liga para deputados e senadores e os convida para entrar no partido, citando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação do PRB, que contaria com a ajuda do ex-ministro e deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e de integrantes do PSB e do PCdoB, provocou uma manifestação raivosa do presidente do PPS, Roberto Freire. Ele acusou o vice José Alencar de cooptação de parlamentares para inchar o PRB - partido para o qual migrou depois de deixar o PL (hoje PR).

- Qual o papel do vice-presidente da República, a mando do presidente Lula? É cooptar, no momento em que o governo utiliza suas forças para prorrogar a CPMF. José Alencar está na função de aliciador, para cooptar parlamentares de outros partidos - disse Roberto Freire, em entrevista divulgada pela página do PPS na internet.

Partidos têm até o dia 30 de setembro para efetivar trocas

As trocas de partido deverão ser concretizadas até 30 de setembro. Só para o PP, a expectativa é de que irão três senadores e sete deputados. O PTB, com 20 deputados, se articula para ganhar uma bancada maior e fazer frente ao PR, que inchou desde a posse e tem hoje 39 deputados- como antigo PL elegeu 23 e ao se unir com o Prona, chegou a 25. O líder do PR, Luciano de Castro (RR), tenta manter seus deputados e está negociando o ingresso de mais três. Um deles virá do PP, numa acomodação regional.

Em Pernambuco, o presidente do PTB estadual, deputado Armando Monteiro, está filiando prefeitos à legenda.

- Poderemos ganhar meia dúzia de deputados - diz Frank Aguiar (PTB-PI), que ajuda o líder Jovair Arantes (GO) na busca de filiados.

Entre os partidos de esquerda há movimentações para aumento da bancada. O líder do PSB, deputado Márcio França (SP), diz que o partido poderá ganhar cinco deputados. E admite que ajuda a levar deputados para o PRB, PHS e PMN, que integram o bloco com o PSB-PDT e PCdoB:

- Se não há como acomodar o deputado no PSB, tentamos o PRB, o PHS e o PMN.

No PDT, conta o deputado Severiano Alves (BA), o presidente da legenda, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, informou que tem quatro ou cinco nomes no colete. Mas o partido perderá Sérgio Brito (BA), que deverá acompanhar o gesto do prefeito de Salvador, João Henrique, seu concunhado, indo para o PMDB. Entre os nomes cotados para o PDT estão Paulo Rubem (PE), insatisfeito no PT, e Silvio Costa (PHS-PE). Líder do PPS, Fernando Coruja (SC), admite a perda de parlamentares.

- Há uma ação do governo sobre nossa bancada, porque somos oposição independente. Quatro ou cinco poderão sair.

Embora o projeto que criou mecanismos de fidelidade partidária abra nova janela de troca para 2010 - em setembro de 2009 -, muitos deputados pretendem fazer já as acomodações políticas, seguindo o fluxo de trocas intensas para as eleições municipais de 2008.

A lei foi aprovada na Câmara, mas não no Senado, e há o temor dos que pretendem mudar de legenda com o julgamento do Supremo Tribunal Federal - que irá dizer se é correta, ou não, a tese de que o mandato pertence ao partido, que tem o respaldo do Tribunal Superior Eleitoral.