Título: Setor imobiliário deve crescer mais de 5% no país, na contramão dos EUA
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 26/08/2007, Economia, p. 36

TREMOR GLOBAL: Número de imóveis financiados triplicou desde 2002.

Analistas descartam risco de bolha no Brasil, porque juros ainda são altos.

Se o horizonte mundial é nebuloso para o mercado imobiliário, no Brasil construtores e especialistas vêem um céu de brigadeiro. Aqui, ao contrário do que ocorreu nos países ricos, os juros em queda não representam ameaça de bolha. Afinal, apesar de terem caído, as taxas continuam extremamente altas. E a perspectiva é que o mercado imobiliário cresça acima da média da economia, que este ano deve ter expansão próxima a 5%.

Os números recentes confirmam esse dinamismo: em julho, o financiamento imobiliário girou R$1,59 bilhão, batendo recorde. Só nos sete primeiros meses de 2007, foi financiada a compra de 98.757 imóveis, quase o mesmo patamar de todo o ano passado e mais que o triplo das 28.902 unidades de 2002, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

- Os bancos estão voltando a financiar o setor, muitas empresas abriram capital em bolsa, e os juros mais baixos facilitaram essa expansão. Os prazos de pagamento estão maiores, o que permite uma nova demanda, de clientes de baixa renda - afirma Rogério Chor, presidente da Associação de Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi).

Turbulência não reduz apetite de investidor externo

Atrair clientes de baixa renda não significa relaxar na avaliação de risco, ressalta Rogério Zylbersztajn, vice-presidente da RJZ Cyrella. Os bancos são extremamente rigorosos, tanto que a inadimplência historicamente não ultrapassa 3%, acrescenta. Clientes que nos EUA seriam atendidos pelas hipotecas subprime (com mais risco de inadimplência) aqui têm crédito subsidiado pelo governo, lembra Fábio Maceira, diretor-executivo no Brasil da consultoria internacional Jones Lang LaSalle. O risco é calculado, e baixo.

- As bolsas caíram com investidores de curto prazo. O Brasil tem atraído investimento no setor imobiliário corporativo (escritórios, shoppings, hotéis), e esse é um recurso de longo prazo - diz Maceira.

Mordejai Goldenberg, vice-presidente da Cushman & Wakefield no Brasil, acrescenta que o país só recentemente passou a receber investimentos externos no setor. E a perspectiva de investment grade (grau de investimento) deve tornar o país ainda mais atraente.

No mercado residencial, o dinamismo também é incipiente:

- Passamos 20 anos estagnados, e este é só o início de um ciclo favorável. A realidade aqui é diferente. Basta lembrar que o crédito imobiliário não chega a 5% do PIB, enquanto nos EUA supera 70% - afirma Marco Adnet, diretor regional da Rossi Residencial.