Título: Rio tem mais casos de dengue do que em 2006
Autor: Alves, Maria Elisa
Fonte: O Globo, 06/09/2007, Rio, p. 21

Em relação ao primeiro semestre do ano passado, cidade já registra aumento de 30% no número de vítimas.

O município do Rio registrou, apenas no primeiro semestre de 2007, mais casos de dengue do que os notificados em todo o ano passado. De janeiro a junho, 17.070 pessoas foram infectadas pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, contra 14.072, em 2006 inteiro. Na comparação apenas entre os primeiros semestres de 2006 e 2007, a situação da cidade também piorou: apesar de municípios vizinhos terem emprestado 800 agentes de saúde para agir no combate à dengue e evitar uma epidemia durante os Jogos Pan-Americanos, realizados em julho, houve um crescimento de 30,7% no número de casos.

Áreas mais afetadas ficam na Zona Oeste da cidade

Além de ter feito mais vítimas em 2007, o Aedes aegypti também tem voado mais longe: praticamente todas as áreas da cidade foram afetadas, ao contrário de 2006, quando Jacarepaguá e Barra da Tijuca foram os locais com mais vítimas.

- A maior diferença é que, no ano passado, tivemos muitos casos em uma área, houve um surto em Jacarepaguá. Agora, a doença se espalhou- diz Meri Baran, superintendente de Vigilância em Saúde do município.

As áreas com mais problemas ficam na Zona Oeste. Na área de planejamento de Campo Grande, houve 2.773 casos de dengue, entre janeiro e junho deste ano. A área de planejamento de Santa Cruz registrou, no mesmo período, 1.464 notificações.

- Houve um surto nessas áreas. O índice de infestação do mosquito no início do ano, em Campo Grande e Santa Cruz era de quase 20%. Conseguimos reduzir para menos de 4% - diz o superintendente de Saúde do estado, Victor Berbara.

Berbara diz que o índice de infestação de mosquito, cuja média era de 8%, passou para 4%. Ainda assim, ele é superior pela preconizada pela Organização Mundial de Saúde, que considera aceitável o índice de 1%. Berbara diz que a maioria dos casos no estado - o Rio registrou, no primeiro semestre, 63% a mais de vítimas do que no mesmo período de 2006 - ocorreram nos primeiros meses do ano, antes da força-tarefa para combater o Aedes ser montada.

Segundo ele, houve surtos em vários municípios onde a população ainda era suscetível ao vírus 3, que circula atualmente no Rio: em Mendes, por exemplo, foram registrados, em 2007, 1.243 casos de dengue, e 1.346 em Itaperuna.

Para o epidemiologista Edmilson Migovski, professor da UFRJ, a situação pode piorar, já que os 800 agentes cedidos para combater o mosquito foram devolvidos a seus municípios de origem no último dia 31.

- As autoridades não dizem que o Rio vive uma epidemia. Tecnicamente, é verdade, já que epidemia se caracteriza pelo aumento em relação a uma série histórica. Mas como o Rio sempre tem índices altos, podemos dizer que ele vive uma endemia. A dengue já faz parte da rotina da cidade - diz o epidemiologista.