Título: Obama envia sinais a Raúl
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 05/04/2009, Mundo, p. 18

Pressão pelo fim do embargo deve ficar ainda mais intensa na Cúpula das Américas. Parlamentares americanos visitam a ilha, e senadores democratas e republicanos pedem menos restrições a viagens

O novo governo dos Estados Unidos ¿estendeu a mão¿ duas vezes para Cuba na última semana, conforme a promessa de campanha do presidente Barack Obama. Primeiro, um grupo bipartidário de senadores apresentou um projeto de lei que, se aprovado, permitirá aos cubanos residentes nos EUA viajarem a Cuba para visitar seus parentes. Na sexta-feira, sete deputados democratas e afrodescendentes desembarcaram em Havana para a primeira visita de congressistas americanos à ilha desde junho de 2007. Eles foram recebidos pelo chefe da Seção de Interesses de Cuba nos Estados Unidos, Jorge Bolaños. Os legisladores pretendem acabar também com a norma que impede cidadãos americanos de visitarem Cuba, sob pena de multa. ¿Esperamos começar um diálogo¿, disse a representante da Califórnia Barbara Lee, que fica na ilha até quarta-feira.

Obama é o primeiro presidente dos EUA que se diz disposto a dialogar diretamente com o governo cubano, o qual resiste ao embargo econômico desde 1962. O governo de Raúl Castro avaliou na semana passada que as medidas de distensão representam ¿um primeiro revés para a máfia anticubana de Miami e seus representantes no Capitólio (o Congresso americano)¿. A vice-ministra de Turismo, María Elena López, não deu muita importância aos acenos de Washington, nem explicou se o governo está preparado para receber uma avalanche de turistas americanos interessados em viajar legalmente à ilha ¿ muitos já o fazem via México, Jamaica e Bahamas. ¿Para nós, esse país (os Estados Unidos), como todos, está no mundo, e nos preparamos para todos¿, afirmou.

Durante a Cúpula de Líderes Progressistas, no Chile, no último fim de semana, Joe Biden, vice-presidente americano, reafirmou que o embargo será mantido enquanto Cuba não for uma democracia. A questão do bloqueio será abordada novamente entre 17 e 20 de abril, na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, que contará com a presença de Obama. Larry Birns, diretor do Conselho de Assuntos Hemisféricos de Washington (Coha, na sigla em inglês), disse ao Correio que Obama sofrerá uma pressão ainda mais forte, pois desta vez El Salvador e seu presidente eleito, Mauricio Funes, serão os próximos a reconhecer Cuba, seguindo o exemplo da Costa Rica e deixando os EUA sozinhos no embargo.

Turismo ¿Nos próximos seis meses estaremos no caminho para a normalização das relações diplomáticas entre Cuba e EUA. A política atual não sobreviverá ao status quo após a cúpula em Trinidad: mudanças importantes terão lugar¿, prevê Birns. Para o analista, no futuro, os turistas americanos serão bem recebidos em Cuba. ¿Eles também vão levar dinheiro. E isso é o que Cuba realmente precisa agora, depois de sofrer com três furacões em setembro do ano passado que causaram prejuízos da ordem de US$ 10 bilhões¿. Birns pensa que o embargo americano à ilha é uma política obsoleta. ¿Obama e Biden não poderão continuar dizendo que não levantarão o embargo se não têm nenhuma razão plausível, se não há custo político.¿

¿Remover todas as restrições a viagens de família e humanitárias para Cuba¿ e ¿promover intercâmbio cultural e educacional¿ são duas das ações de curto prazo propostas por um grupo de 19 acadêmicos, diplomatas e formadores de opinião no trabalho Política dos EUA para uma Cuba em transição, do centro de estudos Brookings Institution, em Washington. Para os pesquisadores, os gestos não devem depender de contrapartidas. ¿Se fizermos isso, a hierarquia cubana vetará nossa política. Os EUA devem agir no sentido de desenvolver internamente a ilha e avançar para uma Cuba democrática.¿

Alguns senadores se mostraram contrários à hipótese de facilitar as viagens. ¿Durante anos, milhões de europeus, canadenses, latino-americanos, entre outros, visitaram Cuba, investiram em Cuba, gastaram bilhões de dólares, assinaram acordos de comércio e se engajaram politicamente. Qual foi o resultado? O regime ainda não se abriu. Ao contrário, usou os recursos para se tornar mais opressivo¿, protestou o democrata Robert Menéndez, filho de cubanos.

RECOMEÇO PARA CHÁVEZ Hugo Chávez, presidente venezuelano, disse esperar que a 5ª Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, sirva para ¿recomeçar¿ as relações com os Estados Unidos. Em visita ao Irã, Chávez pediu que Barack Obama ¿aperte o botão de reiniciar sobretudo com os países que foram agredidos pelos EUA¿ nos últimos anos.