Título: Diretor da PF diz ser contra grampo na Abin
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 06/09/2007, O País, p. 10

Para Corrêa, não cabe à agência fazer investigações; opinião é contrária à de Lacerda, que deve assumir órgão.

BRASÍLIA. Dois dias depois de tomar posse na direção da PF, Luiz Fernando Corrêa afirmou ontem que é contra o uso de grampos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), inclusive em investigações sobre terrorismo. Segundo ele, cabe à Abin fazer relatórios e análises de cenários futuros de interesse da Presidência, e não conduzir investigações criminais. A opinião de Corrêa choca-se com as sugestões do delegado Paulo Lacerda, diretor indicado para a Abin, que comandou a PF nos últimos quatro anos e oito meses.

Perguntado se é a favor de que a Abin também faça monitoramento telefônico, o diretor da PF respondeu:

- Em tese, não. A Abin deve fazer análises, prospecção de cenários.

Para Corrêa, terrorismo é crime e, portanto, deve ser investigado pela PF, como prevê a Constituição. O delegado argumenta ainda é obrigação da PF, e não da Abin, produzir provas contra crimes e levar os acusados aos tribunais. Segundo ele, o mais importante seria a colaboração entre as áreas de inteligência de Abin e PF. A idéia é que a Abin repasse à PF informações sobre eventuais ameaças criminosas. A PF aprofundaria as investigações com a autorização da Justiça e o acompanhamento do Ministério Público:

- O terrorismo é uma manifestação criminosa, e como tal deve ser tratado. Temos que produzir provas.

Lacerda defendeu esta semana a ampliação dos poderes da Abin. Indicado para dirigir a instituição, ele entende que a Abin deve recorrer a grampos, com autorização judicial, para investigar ameaças terroristas e sabotagens. A proposta, aliás, faz parte da reestruturação do serviço de inteligência, preparada desde maio pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, a pedido do presidente Lula, insatisfeito com a Abin.

PF vai atuar contra a violência urbana

Corrêa afirmou também que a PF vai atuar, a partir de agora, na repressão à violência urbana, especialmente a assassinatos cometidos por grupos de extermínio, tráfico de armas e assaltos praticados por grandes quadrilhas. A idéia é fazer com que a PF, até então dedicada ao combate à corrupção e ao crime organizado, passe a atuar também como força complementar no combate aos crimes contra vida e contra o patrimônio.

- Vamos olhar para questões estaduais, onde está morrendo gente - disse Corrêa.

A competência legal para a repressão a crimes dessa natureza é das polícias civis e militares, subordinadas aos governos estaduais. Mas, segundo Corrêa, a PF pode usar parte de sua capacidade operacional, ociosa em alguns setores, para ajudar a reprimir crimes comuns, mesmo que eles não tenham conexões interestaduais. Pela proposta do delegado, a PF poderá agir quando for solicitada pelos governos estaduais. A segunda alternativa seria propor parcerias com as polícias locais a partir da descoberta de grandes quadrilhas ou grupos de extermínios.

- Podemos cooperar nas investigações de tráfico de armas, grupos de extermínio. Ontem mesmo (segunda-feira) fizemos uma grande operação contra roubo de carros no Rio Grande do Sul - disse Corrêa.