Título: Crise terá pouco efeito sobre a expansão global
Autor: Paul, Gustavo e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 27/08/2007, Economia, p. 21

BRASÍLIA. Há cerca de sete anos, o mundo sofreu fortemente as conseqüências da crise financeira nos Estados Unidos com o estouro da "bolha da internet", que levou o crescimento global a cair à metade em 2001, abaixo de 2%. O cenário poderia se repetir, tendo o mercado imobiliário americano como pano de fundo. Mas, desta vez, os alcances serão bem mais limitados. Especialistas ouvidos pelo GLOBO acreditam que, caso o auge das turbulências financeiras tenha mesmo ficado para trás, a economia mundial manterá expansão robusta em 2008, na casa dos 4,5%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê crescimento ainda maior, de 5,2%.

São dois os motivos para as projeções otimistas: a maior envergadura e solidez dos países emergentes, com destaque para a China, e o melhor preparo de governos e bancos centrais para a enfrentar crises financeiras.

- O mundo é mais forte para absorver impactos do que há sete anos - resumiu o diretor-executivo do Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade de Columbia, Thomas Trebat.

Na avaliação dele, os Estados Unidos - motor da economia mundial - não vão sair ilesos da crise. Por causa dela, Trebat reduziu sua expectativa de crescimento para a economia americana de 3% para 2%. Com população na casa dos bilhões, a China deverá absorver parte dessa desaceleração, impulsionando a economia internacional com taxa de crescimento de 10% em 2008, pouco abaixo dos 12% esperados para 2007.

O professor e pesquisador em economia internacional do Ibmec-SP José Luiz Rossi acredita que a América Latina será menos afetada pela crise, por ter ampliado suas relações comerciais com outros países. Os que mais sofrerão impacto são México e Chile, pela maior dependência dos EUA.

No entanto, o pouso americano não é consenso. O diretor-sênior para América Latina do Dresdner, Nuno Camara, acredita que os EUA vão crescer mais em 2008 - cerca de 2,5%, ante 2% em 2007 -, devido à expectativa de que o Fed (banco central americano) afrouxe a política monetária, reduzindo as taxas básicas de juros.

Na mesma linha, Carlos Langoni, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que muitos países adotaram políticas monetárias austeras e os bancos centrais estão mais preparados para enfrentar crises. Ele aposta em crescimento da economia mundial de 4% a 4,5%, em 2008.