Título: Juros dos EUA também influenciaram decisão
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 06/09/2007, Economia, p. 23

Para analistas, novas reduções dependem da inflação.

A decisão do Banco Central foi diretamente influenciada pela expectativa da reunião do Fomc (o Copom do BC americano, o Federal Reserve), que pode reduzir os juros americanos no próximo dia 18, na opinião de alguns economistas. Se o BC tivesse mantido os juros, o Brasil correria o risco de ter uma enxurrada de dólares, caso o Fed confirme a redução da taxa americana. Os investidores, em busca de juros altos, poderiam levar a uma queda da moeda americana abaixo da mínima do ano, R$1,842, em 23 de julho.

- O BC não teve muita alternativa, porque a reunião dele aconteceu antes da do Fed. A queda do dólar poderia diminuir a expectativa de inflação (por conta dos insumos importados) e o BC poderia ser acusado de errar na mão e ter que aumentar o corte na próxima reunião (em 16 e 17 de outubro) - diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central.

A surpresa na decisão de ontem foi o placar unânime (sete diretores pela redução de 0,25 ponto):

- É sinal de uma política monetária mais frouxa, de que os juros podem ficar cada vez mais baixos - diz Ivo Chermont, economista da Modal Asset Management. - Se o placar tivesse sido apertado, os dados (de inflação e crescimento) iam ter que melhorar muito para termos novas reduções no ano - diz.

Ele avalia que novas reduções dependem de a economia brasileira não dar sinais de superaquecimento - aumentando o risco de inflação - e da volatilidade do mercado financeiro internacional.

Segundo João Sicsú, professor do Instituto de Economia da UFRJ, e futuro diretor de estudos macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ao reduzir o ritmo de corte da Selic, o BC confirmou apenas as expectativas de que há uma piora nos indicadores devido à crise no crédito imobiliário de alto risco dos Estados Unidos.

- É lamentável uma redução tão pequena. O Brasil atravessa a crise bem, está com reservas elevadas e superávit em conta corrente. Não há indicação de que o dólar pressionará a inflação - avalia.

Crise no mercado global foi fator decisivo para corte menor

Para José Cesar Castanhar, da Fundação Getulio Vargas, a alta na inflação, mesmo que pontual, e a crise externa foram os fatores decisivos para a pequena redução. Além disso, diz ele, o BC já vinha manifestando desconforto com a queda nos juros nos últimos meses, pois queria avaliar os efeitos da política monetária na economia. Para os especialistas, a tendência dos juros só será definida na próxima reunião. Com a decisão de ontem, o Brasil se mantém em segundo lugar no ranking dos maiores juros do planeta, calcula Thiago Davino, economista da Uptrend.