Título: Freio na queda dos juros
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 06/09/2007, Economia, p. 23

BC reduz, por unanimidade, Selic em 0,25 ponto, para 11,25%.

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu ontem diminuir o ritmo de corte da taxa básica de juros para 0,25 ponto percentual, reduzindo a Selic a 11,25% ao ano. O movimento era amplamente esperado pelo mercado. Por isso, o fato de a determinação ter sido unânime ganhou importância, dando mais fôlego à perspectiva de que o Banco Central (BC) faça mais um corte de 0,25 ponto ainda este ano, em outubro, dependendo do comportamento da inflação. Em dezembro, encerraria o ciclo de política monetária expansiva, que completou ontem dois anos.

O BC mudou um pouco seu tom ao anunciar a decisão. Menos lacônico, em comunicado informou que "avaliou a conjuntura macroeconômica e considerou que, neste momento, o balanço de riscos para a trajetória prospectiva da inflação ainda justificaria estímulo monetário adicional". Em seguida, voltou a repetir que continuará monitorando "atentamente" o cenário macroeconômico até seu próximo encontro.

- O comunicado enfatiza este momento, deixando em aberto o que fará daqui para frente. Se a decisão não fosse unânime, era de se esperar mais que, em outubro, os cortes já parassem - afirmou a economista-chefe da Mellon Global Investment, Solange Srour.

A reunião foi precedida de muita expectativa - até porque havia muita pressão dentro do governo para manter o corte de 0,5 ponto dos dois últimos encontros - e durou duas horas e 40 minutos. Havia agentes econômicos que não descartavam novo racha no Copom, como aconteceu nas duas últimas reuniões, ou até mesmo uma parada nos cortes agora.

- Seria ruim se houvesse três reuniões seguidas com divergências (entre os diretores do BC) - afirmou a economista-chefe do ABN Amro, Zeina Latif.

Inflação é o maior motivo para a cautela do Copom

Os economistas creditam ao atual cenário de inflação a principal razão para a cautela maior neste momento. A forte pressão nos preços dos alimentos tem ultrapassado todas as expectativas. O IGP-DI, divulgado ontem por exemplo, fechou agosto com alta de 1,39%, muito acima do 0,37% de julho. O BC só tornará pública sua avaliação do cenário na próxima quinta-feira, por intermédio da ata do Copom.

Por enquanto, não há ameaças concretas de que a meta de 4,5% do governo deixe de ser atingida pelo IPCA, mas a aceleração preocupa. Especialmente porque o BC já passou a tomar decisões olhando para 2008. Além disso, a atividade produtiva vem mostrando aquecimento contínuo, alimentando as hipóteses de que a demanda pode superar a oferta e, assim, puxar ainda mais os preços.

- O que preocupa agora são os reflexos da política monetária em 2008. Diante do cenário, é preciso ter mais cautela mesmo - avaliou a economista-chefe da BES corretora, Sandra Utsumi.

Com o corte de ontem, o BC completou um ciclo de dois anos de quedas ininterruptas dos juros básicos, o maior já feito pela autoridade monetária. Ao todo, são 18 quedas, que somaram 8,5 pontos percentuais. Até o fim do ano, o Copom se reúne mais duas vezes, com a expectativa de a Selic encerrar o período a 11%. Há uma semana, o mercado esperava mais um corte de 0,25 ponto em dezembro. Mas, além da inflação, a turbulência que atingiu o mercado financeiro internacional deixou o quadro mais complicado.