Título: Pastore: Bolsa paga preço da globalização
Autor:
Fonte: O Globo, 06/09/2007, Economia, p. 24

Mas efeito sobre a economia do país será pequeno, diz economista.

SÃO PAULO. O ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore disse ontem que caberá ao mercado acionário brasileiro arcar com a maior parcela dos custos da atual crise financeira internacional. Segundo ele, a recente turbulência terá um efeito pequeno sobre a economia do país em geral, graças aos seus bons fundamentos. Mas a Bolsa de Valores do país pagará o preço de sua integração aos mercados globais.

- É inegável que o Brasil vem se beneficiando dessa integração. Os recursos estrangeiros fluindo para o mercado de capitais, no Brasil, têm aberto alternativas de capitalização para as empresas que antes não existiam - reconheceu Pastore. - Porém, para que esse benefício seja incorporado pela economia brasileira, o país fica exposto às oscilações globais dos preços das ações.

Durante apresentação no I Fórum de Mercados de Capitais, promovido pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), Pastore comparou o comportamento dos índices de ações de economias distintas - como as de Brasil, Estados Unidos, Alemanha e Argentina - e constatou que eles têm registrado oscilações de "magnitudes semelhantes" ao longo da atual crise. E, mesmo reconhecendo que os preços dos papéis dependem da qualidade das empresas e do desempenho econômico do país, o economista afirmou:

- A comparação desses índices mostra que as oscilações dos preços das ações são, atualmente, um fenômeno dominado pela integração internacional dos mercados de capitais.

Quanto às demais áreas da economia, Pastore disse não ver problemas. O fato de o país hoje ter superávit de conta corrente em torno de US$11 bilhões e reservas na casa de US$160 milhões permite que, diferentemente do que ocorreu em crises anteriores, variáveis como juros, câmbio, inflação e a taxa de crescimento econômico sejam pouco afetadas.

- Os bons fundamentos macroeconômicos impediram maiores flutuações dos prêmios de risco e da taxa cambial, mantendo estáveis a taxa de juros real e o nível de atividade econômica - disse Pastore.