Título: Entidades voltam a criticar o BC pelo conservadorismo no corte de juros
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Fonte: O Globo, 06/09/2007, Economia, p. 24

SOB PRESSÃO: Indústria diz que inflação não justifica ritmo menor de baixa

Bancos começam a reduzir taxas, mas quedas são de 0,05 ponto em média.

Entidades representativas da indústria e do comércio voltaram a criticar o Banco Central pela decisão de ontem de cortar 0,25 ponto na taxa Selic. A expectativa da indústria era de uma política mais agressiva na redução dos juros. Segundo o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, a expectativa da indústria agora é que o governo retome os cortes mais acentuados nas taxas de juros para que não se interrompa o atual processo de crescimento da economia.

- Essa é uma condição fundamental para a manutenção do ritmo de crescimento do país - diz Monteiro Neto.

Segundo a entidade, a indústria vem sofrendo com a carga tributária alta, e os juros nos mesmos patamares aumentam os custos do setor. "Com o corte de apenas 0,25 ponto percentual na Selic, o Copom (Comitê de Política Monetária) freia o processo de convergência do nível das nossas taxas de juros aos padrões de nossos competidores internacionais", dizem, em nota, os economistas da entidade.

Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, junta-se aos empresários para reclamar o corte de 0,25. Para ele, "os juros altos são um instrumento perverso que estrangula a economia do país, e os juros básicos estão num patamar proibitivo. E esta queda é insuficiente para dar fôlego para a economia".

- É decepcionante a queda anunciada hoje (ontem). Esta decisão, ancorada em análises dos insensíveis conservadores do Banco Central, é um banho de água gelada na já morna economia do segundo semestre. Para ter um crescimento significativo seria preciso uma queda substancial na taxa de juros - diz Paulinho.

Fiesp e Firjan reclamam também da carga tributária

Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), as altas recentes da inflação não justificam a diminuição no ritmo do corte da Selic. Na última reunião, a redução foi de 0,5 ponto percentual. Na Fiesp, a mesma percepção.

- E o governo ainda insiste em renovar essa contribuição provisória (CPMF) com prazo legal para terminar e que carece de qualidade tributária, em vez de buscar adequado equilíbrio fiscal com a redução das despesas financeiras e o aumento de eficiência na gestão pública, o que lhe permitiria fazer mais gastando menos - disse Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), acredita que a decisão do Copom pode esfriar as expectativas positivas dos empresários mostradas nas sondagens recentes.

No comércio, os protestos também se repetiram. Tanto a federação do Rio quanto a de São Paulo manifestaram decepção com a decisão do Banco Central.

Os bancos foram bem mais conservadores que o BC na hora de rever suas taxas. Os cortes foram, em média, de 0,05 ponto percentual. O Banco do Brasil reduziu os juros em 0,04 ponto percentual. O Bradesco nem a isso chegou: os cortes foram de 0,02 ponto. Com exceção de uma linha de conta garantida, que na mínima baixou de 3,08% ao mês para 3,04% no mesmo período. O Banco Real mostrou o corte mais agressivo numa de suas linhas de crédito pessoal: baixou de 2,35% para 2,05%.