Título: Passo importante para a redução da impunidade
Autor: Franco, Bernardo Mello e Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 29/08/2007, O País, p. 8

Avaliação é de cientistas políticos que analisaram o resultado do julgamento do STF.

O resultado do julgamento das denúncias contra os acusados do escândalo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) foi considerado por cientistas políticos como um passo importante para a redução da impunidade no país. Eles avaliam, porém, que há agora um desafio: conseguir julgar os réus antes que seus supostos crimes prescrevam.

- É um precedente histórico. É a primeira vez que o Supremo aceita denúncia contra políticos corruptos e corruptos do setor privado. O último grande caso foi o do Collor (ex-presidente Fernando Collor), quando as provas, consideradas inconstitucionais, foram jogadas no lixo - disse o professor de Ciência Política da UnB David Fleischer. - Todos achavam que foro privilegiado era igual a impunidade.

Para a doutora em Ciência Política e pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas Maria Celina D"Araújo, além dessa primeira decisão inédita do STF, falta agora a corte tomar outra atitude inédita: punir alguém.

- A atuação do Supremo está dando sensação de alento, de que a impunidade tem algum custo. A decisão também deve acabar com a história de que as denúncias era invenção da imprensa, que não tinham nada de especial. O STF mostra que há indícios de crimes graves, envolvendo o centro do poder, da República, o principal partido do governo. Agora, tem que se criar condições para terminar a tempo o julgamento - afirma Maria Celina.

O professor de Teoria Política do Iuperj Renato Lessa considera que o STF está agindo não só como um tribunal judiciário, mas como uma espécie de corregedoria da política:

- Isso tem a ver com o fracasso dos partidos e do próprio Parlamento em pôr limites a práticas políticas execráveis. O STF entra como uma instituição de controle.

De acordo com o professor, mesmo que no julgamento dos réus não haja punição, o Supremo está dando um susto.

- Foro privilegiado pode deixar de significar impunidade.