Título: Publicitário foi denunciado por dois crimes
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 29/08/2007, O País, p. 12

Duda responderá por evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

BRASÍLIA. Responsável pela campanha vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2002, o publicitário Duda Mendonça responderá pelos crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro no processo aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o mensalão. A sócia de Duda, Zilmar Fernandes, será processada pelos mesmos crimes. Os dois foram acusados de receber, de forma ilegal, dinheiro do PT em contas no exterior e de fazer saques em espécie no Banco Rural.

O tribunal incluiu na ação penal, pelo crime de lavagem de dinheiro, os integrantes do chamado núcleo publicitário do esquema (formado pelo empresário Marcos Valério e outras cinco pessoas ligadas a ele) e do núcleo financeiro (composto de quatro dirigentes do Rural).

Ministros questionam pagamentos em dinheiro

Segundo a denúncia, a "organização criminosa" tinha como objetivos negociar apoio político, pagar dívidas do PT e custear campanhas do partido e seus aliados. Entre os credores figuravam Duda e Zilmar. A dívida teria origem nos serviços prestados à campanha de Lula em 2002. As investigações mostram que Zilmar foi ao Banco Rural em fevereiro de 2003 sacar três parcelas de R$300 mil. Em abril do mesmo ano, teria recebido em espécie duas parcelas de R$250 mil.

- Se alguém oferece pagamento de R$300 mil em dinheiro, cria dificuldade para quem vai receber. Por que não fazer um cheque, que é levinho, para depositar na conta? Pode-se dizer que é um pagamento típico, que não levanta suspeita?- indagou o ministro Cezar Peluso.

Até R$28 milhões em conta não declarada no exterior

A denúncia mostra que os recursos foram transferidos para uma conta no Bank Boston, nas Bahamas, denominada Dusseldorf, da qual Duda era titular. As operações não eram declaradas às autoridades brasileiras. O montante enviado ao exterior corresponderia a algo entre R$17 milhões e R$28 milhões. Segundo as investigações, entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2004 foram movimentados US$3,6 milhões na conta.

Os ministros afirmaram que o fato de Duda ter pago o Imposto de Renda relativo ao valor em 2005, após as irregularidades virem à tona, é mais uma prova de que ele teria cometido o crime.

O advogado de Duda e Zilmar, Tales Castelo Branco, afirmou que o STF foi cauteloso ao receber as denúncias e reiterou a tese de que seus clientes teriam cometido apenas o crime de sonegação fiscal:

- O dinheiro recebido por Duda e Zilmar não era sujo, ilícito. Era fruto de trabalho honesto e remunerado. Se o pagamento foi alto, é outra coisa. O Duda é genial. Eles não sabiam da origem escusa do dinheiro.