Título: Bolsa cai 2,61% e dólar volta a passar de R$2
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 29/08/2007, Economia, p. 27

Em dia de forte nervosismo, ações caem em todo o mundo de olho nos problemas da economia americana.

As principais bolsas mundiais voltaram a sofrer com a crise no mercado de hipotecas de alto risco (as chamadas subprime) dos Estados Unidos. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), após sete pregões consecutivos em alta, não conseguiu manter os ganhos e fechou em queda de 2,70%, aos 51.645 pontos. Foi o maior recuo desde o dia 15 de agosto, quando o pregão registrou desvalorização de 3,19%. Com a aversão dos investidores ao risco, o dólar voltou a ultrapassar os R$2. A moeda americana avançou 2,61% e fechou cotada a R$2,002.

Os reflexos também foram sentidos no risco-Brasil, que subiu 4,95%, para 211 pontos. Nos EUA, o pessimismo também afetou os investidores. O Dow Jones fechou em queda de 2,10%. O mau humor se espalhou para a Europa, onde a Bolsa de Londres caiu 1,90%. Na Ásia, que já havia encerrado os negócios, as bolsas fecharam estáveis.

Fed está testando piso de juros, diz analista

Segundo Fabio Barbosa Knijnik, analista sênior do BES Investimento, desde o início do mês, o Federal Reserve (Fed, o BC americano) vinha mantendo a taxa efetiva dos fed funds (usada pelos bancos comerciais que depositam dinheiro no BC americano) abaixo dos 5,25%. Na segunda-feira, pela primeira vez, ela voltou ao nível normal, e o mercado se deteriorou sem motivo aparente. Apesar de não se saber qual foi a taxa aplicada ontem, continua Knijnik, ela deve ter ficado próxima a 5,25%.

- A taxa maior implica em menor liquidez e deve ter contribuído para a piora de hoje (ontem). A grande dúvida é se o mercado vai ter fôlego com a liquidez atual e é isso que o Fed está testando para tomar a decisão dos juros básicos em setembro - diz Knijnik.

Segundo analistas, alguns dados divulgados ontem contribuíram para aumentar a insegurança entre os investidores. O índice de confiança do consumidor americano registrou queda de 6% em julho, em seu maior recuo mensal desde setembro de 2005. A S&P informou ontem que os preços dos imóveis nos EUA registraram queda de 3,2% no segundo trimestre, a maior desde 1987. O banco Merrill Lynch rebaixou a recomendação das ações de Citigroup, Lehman Brothers e Bear Stearns, devido à exposição dessas instituições aos títulos lastreados em subprime.

No setor imobiliário, a rede americana de lojas e artigos domésticos Home Depot confirmou a venda da HD Supply, sua unidade de distribuição, por US$8,5 bilhões, com uma queda de 18% em relação ao preço estipulado em junho. Além disso, a companhia americana de financiamento imobiliário CIT fechou suas operações de concessão de empréstimos devido aos altos prejuízos.

Ontem, o mercado também não reagiu bem à divulgação da ata da última reunião do Fed, no início do mês. No documento, o Fed reconheceu que a deterioração das condições do mercado pode exigir uma resposta de política monetária. Segundo Alexandre Horstmann, diretor de gestão da Meta Asset, as informações, defasadas, demostraram o conservadorismo da autoridade monetária.

(*) Com agências internacionais

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