Título: A expectativa é a condenação
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 30/08/2007, O País, p. 3

MENSALEIROS NO TRIBUNAL

Procurador-geral diz que há provas suficientes contra "vários" acusados do mensalão.

Mesmo apresentando sinais evidentes de cansaço pelas mais de 35 horas de sessões, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, não conseguia ontem tirar do rosto o sorriso que sustenta desde o resultado do julgamento da denúncia do mensalão. No dia seguinte à abertura de processo contra os 40 denunciados por ele, o procurador-geral, sem citar nomes, disse que, com as provas colhidas até agora, já seria possível condenar "vários" acusados de participar do esquema:

- A expectativa é que haja a condenação de todos - disse Antonio Fernando, numa rara entrevista aos principais jornais do país.

Contra os dirigentes do Banco Rural, por onde circulou grande parte do dinheiro do valerioduto, o procurador diz "sobrarem" provas. A confiança é reforçada por pelo menos oito novas provas, que serão enviadas nos próximos dias para serem anexadas ao processo. Elas não foram incluídas na denúncia, apresentada em abril de 2006, porque só ficaram prontas depois.

As novas provas comprovariam o emprego de recursos públicos no mensalão. Uma delas é uma perícia que rastreou o dinheiro do fundo Visanet, que tem a participação do Banco do Brasil. A pedido do banco estatal, pelo menos R$39,5 milhões foram pagos à DNA Propaganda, de Marcos Valério, por contratos de publicidade cujos serviços não foram totalmente comprovados. O laudo comprovaria que parte destes recursos foram parar nas mãos dos mensaleiros:

- Tecnicamente houve a confirmação do que se disse (que os repasses comprovavam o uso de dinheiro público). Está bem detalhada a circulação do dinheiro, a origem e o final.

O procurador-geral citou ainda outro laudo técnico, que seguiu o rastro de R$202 mil pagos no fim de 2003 pelo Ministério do Esporte à SMP&B, também de Marcos Valério. A perícia, revelada pelo GLOBO no último domingo, mostra que, em menos de três dias, R$120 mil foram parar nas mãos de Anita Leocádia da Costa, assessora do deputado Paulo Rocha (PT-PA).

Antonio Fernando, no entanto, reconhece que mais provas precisam ser produzidas contra alguns réus, como o ex-secretário de Comunicação do governo Luiz Gushiken, acusado de peculato (desvio de dinheiro público).

Evidências contra José Dirceu

Sobre o ex-ministro José Dirceu - processado por corrupção ativa e formação de quadrilha e acusado de ser o "chefe incontestável" do esquema - o procurador disse ter elementos suficientes para comprovar as acusações. Entre outras evidências, estão encontros que o ex-ministro teve com Marcos Valério e com diretores dos bancos Rural e BMG.

- O que é a prova, afinal, senão a demonstração de que tal situação ocorreu? Ela (a prova) pode se fazer com um documento em que haja o reconhecimento explícito ou através de vários elementos que, somados, transmitem essa certeza - disse.

Para definir os rumos das novas investigações, o procurador-geral vai analisar os votos dos ministros. Mesmo apostando numa condenação maciça, ele disse que não se decepcionará se isso não acontecer:

- Aqui não há fanatismo em obter-se resultado. O resultado tem que ser o que corresponde à Justiça.

Antonio Fernando relembrou momentos cruciais do julgamento. Disse não ter se importado com a desqualificação da denúncia feita pelos adjetivos usados pelos advogados, mas depois não se furtou a alfinetadas:

- Perderam tempo precioso.

Apesar de problemas de coração, ele disse não ter ficado nervoso:

- Quem tem que ficar nervoso são os denunciados (risos).