Título: É um marco na história da Justiça do Brasil
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 30/08/2007, O País, p. 9

Especialistas reconhecem virtudes no Judiciário, mas alertam para risco de morosidade.

SÃO PAULO e RIOAinda que demande, a partir de agora, agilidade por parte da mais alta Corte do país, a abertura do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) contra os 40 envolvidos no escândalo do mensalão aproxima o Judiciário do clamor popular por um basta à corrupção. A opinião é de especialistas ouvidos pelo GLOBO, que reconhecem o simbolismo histórico da decisão.

- É um marco na história da Justiça do Brasil. Mesmo os ministros nomeados pelo presidente Lula não deram votos para agradá-lo. Esse é um sinal de virtude republicana. Mesmo com um certo corporativismo e uma certa lentidão, nosso Judiciário melhorou, e muito. É a sinalização de limites e valores para sociedade, em um momento em que ansiávamos por um farol. Estamos amadurecendo - afirma o historiador Gunter Axt, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de trabalhos sobre a história do Judiciário.

Jurista alerta para risco de prescrição

Apesar de reconhecer o impacto positivo da decisão na sociedade, o jurista Hélio Bicudo alerta que a concentração dos casos dos 40 réus em um único relator poderá levar o processo a durar pelo menos cinco anos até a conclusão. A maioria dos crimes, como corrupção ativa e passiva, além de formação de quadrilha, prescreve em pouco tempo.

- A nação ficou feliz com a decisão, mas isso pode ser apenas virtual. A demora de mais de um ano e meio para o recebimento já mostra que a lentidão será o modo de percurso de um processo tão importante para a credibilidade do governo brasileiro - disse Bicudo.

Para o criminalista Antonio Magalhães Gomes Filho, professor de processo penal na USP, ainda não é possível avaliar se o STF faz alguma antecipação do mérito da ação:

- A decisão foi de admissibilidade da denúncia, ou seja, admitindo que há elementos mínimos contra os réus. Agora, tudo dependerá das provas produzidas - disse.