Título: Hurricane: bicheiros voltam para a cadeia
Autor: Werneck, Antônio e Berta, Ruben
Fonte: O Globo, 30/08/2007, Rio, p. 18

Juíza decreta a prisão de 15 pessoas ligadas à máfia dos caça-níqueis; três acusados ainda estão foragidos.

Acusados desta vez de lavagem de dinheiro, os bicheiros Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães; Anísio Abraão David, o Anísio da Beija-Flor; e Antônio Petrus Kalil, o Turcão, voltaram para a cadeia ontem, na quarta etapa da Operação Hurricane, iniciada em abril deste ano para combater a máfia dos caça-níqueis e a venda de sentenças. As prisões foram feitas pela Polícia Federal, cumprindo mandados expedidos pela juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Criminal Federal. Ao todo, 15 pessoas tiveram a prisão decretada. Três permanecem foragidas. Na decisão de ontem, a juíza também determinou o seqüestro dos bens de todos os acusados.

A operação foi desencadeada às 6h, com a participação de cem policiais federais da Diretoria de Inteligência Policial (DIP), de Brasília, e do setor de inteligência da PF do Rio, na Praça Mauá. Os bicheiros foram presos em casa e não reagiram. Eles foram levados para a sede da PF para prestar depoimento. Capitão Guimarães e Anísio foram transferidos depois para o Desipe, enquanto Turcão cumprirá prisão domiciliar, em Niterói, onde mora, por estar doente.

Das 15 pessoas que tiveram a prisão decretada, três não foram localizadas: Paulo Roberto Ferreira Lino, Laurentino Freire dos Santos e Licínio Soares Bastos. Entre as 12 pessoas presas, estão Marcelo Kalil Petrus, filho de Turcão, acusado de ser seu sucessor nos negócios ilegais da família; e Marcos Antonio Machado Romeiro, o Marquinho, ligado a Júlio César Guimarães Sobreira, sobrinho do Capitão Guimarães (que também voltou a ser preso ontem). Os dois eram procurados desde a primeira fase da Hurricane.

Marcos Antonio Romeiro é acusado pela Polícia Federal de ser o administrador do Serra Bingo e aparecia como dono dos carros de Júlio César Guimarães. Foi no escritório do sobrinho do Capitão Guimarães, na Tijuca, apelidado de Casa Preta, que a PF apreendeu cerca de R$5 milhões em dinheiro, que seriam, supostamente, usados para o pagamento de propinas a policiais e a integrantes do Poder Judiciário.

Delegado diz que poderão ocorrer novas prisões

O delegado Valdinho Jacinto Caetano, superintendente da PF no Rio, disse ontem à tarde que as prisões são conseqüência de uma minuciosa análise do material apreendido na primeira fase da Operação Hurricane. O trabalho dos agentes da inteligência da Polícia Federal revelou que os bicheiros e os outros acusados compraram bens usando dinheiro obtido de forma ilegal. Caetano não descartou a possibilidade de ocorrerem novas prisões nos próximos dias.

Na denúncia que encaminhou à Justiça Federal, o Ministério Público Federal citou os cerca de R$5,2 milhões em espécie encontrados pela Polícia Federal durante a Operação Hurricane 1 no escritório de Júlio Cesar Guimarães Sobreira. De acordo com o MP, "a ocultação dos recursos da residência, chamada de Casa Preta, tinha por objetivo dificultar sua localização e apreensão por parte das autoridades policiais, constituindo o dinheiro apreendido o elemento material do crime de lavagem de dinheiro".

Ainda segundo o Ministério Público, apesar de o dinheiro ter sido encontrado na residência de Júlio Guimarães, a quantia pertenceria igualmente a outros 11 denunciados, entre eles Anísio, presidente de honra da Beija-Flor, e Turcão. O sobrinho do Capitão Guimarães é apontado como tesoureiro da organização criminosa, que contava, de acordo com a denúncia, com o "indispensável auxílio" de Marcos Bretas, Marcos Antônio Romeiro e Luciano Andrade. Os mais de R$5,2 milhões encontrados na Casa Preta são classificados pelo MPF como "uma verdadeira reserva técnica, a ser utilizada em caso de necessidade".