Título: Lula enfatiza diminuição do desmatamento
Autor: Damé, Luiza e Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 30/08/2007, Economia, p. 31

RETRATOS DO BRASIL/METAS DO MILÊNIO: "Ninguém venha querer ensinar o Brasil como fazer, porque nós sabemos".

Presidente rebate críticas, afirmando que situação melhor na Amazônia foi possível graças a contratações.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi discreto ao comemorar o cumprimento da meta de redução da fome e da pobreza no país, antes do prazo estipulado pelas Metas do Milênio. Num discurso de menos de 15 minutos, Lula preferiu enfatizar a diminuição da taxa de desmatamento na Amazônia - de 29,059 mil quilômetros quadrados em 1995/96 para 13,1 mil quilômetros quadrados em 2005/06 -, rebatendo críticas da oposição, de que inchou a máquina pública, e cobranças dos países desenvolvidos em relação à preservação das matas brasileiras.

A sustentabilidade ambiental - que leva em consideração preservação dos biomas, saneamento e condições de habitação - é o sétimo objetivo do milênio.

- A gente jamais poderia cumprir as Metas do Milênio no que diz respeito à questão ambiental se não tivéssemos coragem (de rebater) as críticas de que, a cada funcionário que a gente contrata, está inchando a máquina. Na verdade, é preciso contratar, ter técnicos, ter fiscais embrenhados mato afora para evitar as queimadas, senão não se evita. Se não fizéssemos isso, nós não teríamos alcançado o sucesso que alcançamos no fim de 2006 e neste ano - disse.

Só 13% do território estão em unidades de conservação

Lula afirmou que a redução do desmatamento é "extremamente significativa":

- Por isso, quando viajo o mundo, ninguém venha querer ensinar o Brasil como fazer, porque nós sabemos. O que não tínhamos era estrutura.

O desempenho do Brasil neste campo é elogiável - a redução do ritmo de desmatamento chegou a 52% entre os dois últimos dados disponíveis, num país onde, em 20 anos, 300 mil quilômetros quadrados foram devastados - mas ainda carece de logística e infra-estrutura. Em 2004, o país tinha 245 unidades de conservação, número que subiu para 288 no ano passado.

É pouco para uma nação que tem 54% de seu território cobertos por vegetação altamente diversificada, com seis biomas principais. A Amazônia tem apenas 13,1% da sua área em unidades federais de conservação, contra 1% no Pantanal. Se forem somadas as unidades estaduais e municipais, só estão cobertos 13% do território nacional.

Uso de fontes renováveis na matriz energética é elevado

Poluir menos também está entre os objetivos do milênio, e o país conseguiu reduzir a emissão de CFC - anteriormente utilizado em geladeira, ar-condicionado e spray - em 90%, atingindo as metas do Acordo de Montreal. Mas não tem dados confiáveis sobre outros gases igualmente poluentes.

O representante da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Vincent Desourny, concorda que há avanços, mas alerta que o desmatamento ainda é muito grande e ressalta a importância de a sociedade se engajar na preservação:

- Graças a Deus o Brasil tem uma grande biodiversidade, mas aqui a sua preservação não é vista como algo preocupante.

O documento também comemora a alta participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, de 44,9% do total em 2006 - 30,1% referentes a biomassa e 14,8% a energia hidrelétrica. Esse percentual é elevado na comparação com os países ricos (6,1%) e com o mundo em geral (13,1%).