Título: Ata do Fed faz efeito e mercado tem dia calmo
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 30/08/2007, Economia, p. 32

Bolsa sobe 2,11% e dólar volta a ficar abaixo dos R$2 com venda da moeda americana por exportadores.

RIO e NOVA YORK. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o dólar tiveram um novo dia de alívio, após a instabilidade de terça-feira. Segundo analistas, os investidores decidiram dar atenção aos sinais positivos expressos na ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) divulgada na terça-feira.

O Ibovespa, principal índice da bolsa paulista, encerrou o dia em alta de 2,11%, aos 52.734 pontos, próximo à máxima do dia, de 52.809. Acompanhando o otimismo, o dólar teve queda de 1,75%, voltando a fechar abaixo de R$2, a R$1,967. Já o risco-Brasil caiu 7,58%, para 195 pontos centesimais.

Como o dólar ficou acima de R$2 na véspera (R$2,002), os exportadores aproveitaram ontem para vender seus dólares, avaliou João Medeiros, da corretora Pioneer. O Banco Central se manteve fora do mercado.

Juros dos EUA se tornaram o novo fator de risco

De acordo com a ata do Fed referente à reunião do último dia 7, uma "deterioração das condições financeiras pode requerer uma reação de política monetária".

- O Fed deixou claro que vai mexer nos juros (reduzir), só não sabemos se até o dia 18 de setembro (próxima reunião), ou depois - afirma Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.

Na terça-feira, a interpretação da mesma ata foi negativa: o Fed estaria mais preocupado com a inflação e não teria percebido a dimensão da crise no setor de hipotecas de alto risco (subprime). Além disso, havia más notícias, como a maior queda nos preços de imóveis em 20 anos. Agora, segundo o economista-chefe da corretora Ativa, Arthur Carvalho, a redução dos juros vai ser o "principal fator de risco". Ou seja, se o Fed não baixar os juros americanos até a próxima reunião, todo o otimismo aparente pode ir embora.

Nem a queda de 4% nos pedidos de hipotecas na semana passada, divulgada ontem pela associação dos bancos do setor (MBA, na sigla em inglês), surtiu efeito. O Ibovespa chegou a diminuir a alta pela manhã, quando um fundo de investimentos da australiana Basis Capital pediu concordata, mas logo retomou o ritmo de alta.

Queda do iene ajuda otimismo de Wall Street

Em Wall Street, o clima também foi de otimismo. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, fechou em alta de 1,90%, enquanto Nasdaq e S&P subiram, respectivamente, 2,50% e 2,19%. Depois de dois dias de queda, os investidores também foram à caça de barganhas, explicam analistas.

Colaborou a maior queda do iene frente ao dólar em dois anos, à medida que investidores trocavam a moeda japonesa por aplicações de maior risco. Isso foi visto como um sinal de que a crise está perdendo fôlego.

Mesmo assim, os BCs continuaram injetando dinheiro no mercado. O Fed colocou US$5,25 bilhões, e o Banco Central Europeu (BCE), 50 bilhões - mas a demanda dos bancos chegou a 119 bilhões.

(*) Com agências internacionais