Título: Etanol: Lula ouve queixas de condições de trabalho
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 30/08/2007, Economia, p. 34

BRASÍLIA. Depois de chamar os usineiros de heróis e de se tornar garoto-propaganda do etanol mundo afora - vendendo a idéia de que o produto vai ajudar a reduzir a pobreza - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem representantes dos trabalhadores do corte e produção da cana. E ouviu que a idéia de que o etanol como solução, nos termos atuais, só beneficia os donos das terras.

Os trabalhadores, conforme destacaram os sindicalistas que se encontraram com o presidente, continuam vivendo em condições precárias, com casos de escravidão e até morte por trabalho excessivo. Amanhã, Lula poderá encontrar os usineiros. O governo deve realizar um fórum para discutir o assunto.

O presidente da Contag, Manoel José dos Santos, cobrou um marco regulatório para a expansão da cana:

- Sem isso, corremos o risco de acabar com a agricultura familiar.

Ele propôs que o BNDES condicione empréstimos aos empresários do setor a certas garantias trabalhistas. Santos criticou ainda Lula por fazer discursos que agradam sempre ao público para o qual fala:

- O governo, para fazer propaganda, sempre faz o que o setor (usineiro) quer ouvir.

O sindicalista observou que, quando se dirige aos trabalhadores, o presidente utiliza jargões como "vocês podem reivindicar o que quiserem neste governo". Daí a atender os pedidos, segundo Manoel, "é outra coisa". Para ele, ao dizer que os movimentos podem reivindicar, Lula dá a entender que não o estão fazendo:

- A declaração do presidente de que os usineiros são heróis foi extremamente equivocada. Ele não precisava ter dito a frase.