Título: Hugo Chávez desiste de etanol brasileiro
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 30/08/2007, Economia, p. 34

Venezuela decide adicionar outro produto à gasolina do país e faz Petrobras reduzir as exportações de 850 milhões para 500 milhões de litros em 2008.

A posição do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, contra o etanol resultou numa drástica redução das metas de exportação do produto previstas pela Petrobras para este ano e 2008. As vendas para a Venezuela, que fazia um teste com o produto brasileiro, foram suspensas porque o governo Chávez decidiu usar MTBE - um produto químico derivado de petróleo, mais poluente - para adicionar à gasolina, no lugar do etanol. O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, explicou que as exportações de álcool da estatal em 2008 ficarão em torno de 500 milhões de litros, contra os 850 milhões de litros previstos.

Este ano, as vendas externas totais deverão ficar em torno de cem milhões de litros, contra 120 milhões no ano passado. Além de não conseguir fechar novos contratos com a Venezuela, houve dificuldades de logística na Nigéria, que também previa comprar o álcool brasileiro.

Brasil e EUA abandonaram aditivo escolhido por Venezuela

Costa destacou, contudo, que continuam as negociações com a PDVSA, estatal venezuelana de petróleo, sobre as vantagens da adição do etanol à gasolina. Mas, desde o início deste ano, a Venezuela teria decidido usar o MTBE (sigla em inglês para éter metil terbutílico).

Países como os Estados Unidos e o Brasil usaram, no passado, o MTBE misturado à gasolina, mas o produto foi substituído pelo álcool, para reduzir a poluição. Costa evitou atribuir a decisão da Venezuela de usar MTBE em lugar do álcool à postura política de Chávez, que resiste ao etanol por achar que o uso de terras para a plantação de cana-de-açúcar encarecerá os alimentos.

- Minha relação com o pessoal da Venezuela é muito técnica. Se tem ação política ou não, não tenho condições de dizer. Além disso, não me compete comentar - disse Costa.

Petrobras quer vender diesel menos poluente em 2010

O diretor explicou que, no ano passado, a Petrobras exportou, em caráter experimental, cerca de 82 milhões de litros de álcool para a Venezuela. A PDVSA fez um projeto-piloto para testar o produto como aditivo à gasolina, na proporção de 3% a 5%.

As exportações da Petrobras foram apenas para uma região da Venezuela. Outras regiões ainda usam o chumbo tetraetila, muito mais poluente e já abandonado na maioria dos países há anos - como no Brasil.

Os problemas de infra-estrutura na Nigéria para receber álcool brasileiro contribuíram também para a redução das metas de exportação da Petrobras para 2008. Mas, para 2012, a estatal prevê exportar 4,7 bilhões de litros de álcool, principalmente para Japão, Coréia e Cingapura, entre outros.

Uma boa notícia para o meio ambiente: em 2010, a Petrobras pretende começar a oferecer no mercado interno o óleo diesel 50 ppm (parte por milhão de enxofre), atingindo o nível atual da Europa em relação às emissões. O diesel usado hoje nas regiões metropolitanas do país tem emissão de 500 ppm.

O anúncio foi feito pelo diretor de Abastecimento, ao explicar que o assunto está em discussão com vários setores envolvidos, principalmente com os fabricantes de veículos. Segundo o diretor, o diesel 50 ppm só dará resultado em motores próprios para seu consumo. Costa explicou que, além de motores próprios, o setor de distribuição de combustíveis terá de participar, com a instalação de bombas para o novo diesel.

Atualmente, existem no país dois tipos de óleo diesel: o 500 ppm, usado nas regiões metropolitanas, e o 2000 ppm, usado no interior.

- Para que o diesel 50 ppm ofereça vantagem ambiental, é preciso que a indústria automobilística venha a oferecer um novo motor a diesel, para que ele tenha eficiência - disse Costa.

A idéia é realizar uma operação casada, com a oferta do combustível e um motor adequado. Segundo Costa, esse diesel não pode ser utilizado nos motores atuais. A expectativa é que, em 2010, comece a oferta gradual do diesel 50 ppm, continuando-se a se oferecer os outros tipos de óleo. Dois ou três anos depois de 2010, passarão a ser vendidos no país apenas o diesel 50 ppm e o 500 ppm, saindo de circulação o 2000 ppm. A gasolina, que hoje tem mil ppm, será vendida com 50 ppm também a partir de 2010.

Na melhoria da qualidade dos combustíveis, a Petrobras está prevendo investir, em seu Plano de Negócios 2008/2012, um total de US$8 bilhões. Ao todo, a estatal está estimando investimentos de US$35,4 bilhões no setor de abastecimento, petroquímica e biocombustíveis. Desse total, no setor petroquímico, serão investidos US$4,3 bilhões no período, e outro US$1,5 bilhão irá para os biocombustíveis.