Título: Muitas pizzas, no cardápio e no PT
Autor: Galhardo, Ricardo e Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 31/08/2007, O País, p. 8

Réu do mensalão, João Paulo Cunha recebe ato de apoio em pizzaria rodízio.

SÃO PAULO. Ninguém da direção nacional do PT, pizza no cardápio e troca de abraços essencialmente com velhos amigos de Osasco marcaram ontem à noite o ato de desagravo ao deputado federal João Paulo Cunha, realizado numa modesta churrascaria no Cambuci, distante dos bairros nobres de São Paulo. Entre os convidados estava a ex-deputada Angela Guadagnin, que ficou conhecida pela dança da pizza.

Acusado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por três crimes - corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro -, João Paulo recebeu apoio ontem especialmente de sua base eleitoral, em meio a um rodízio de pizzas que custou R$9,90 aos convidados. Cada um pagou o seu. Se em outra época as festas do PT chegaram a ser regadas ao caríssimo rótulo do vinho Romane Conti, o convescote em torno de João Paulo era marcado por garrafas de um barato conhaque que circulava de bandeja em bandeja.

Um bufê de salada acompanhava o jantar, reforçado por pratos quentes servidos em mesas decoradas com flores de plástico.

- Vou de saladinha. Depois, que venham as massas - brincou o deputado José Mentor, citado no caso do mensalão, mas que não foi denunciado.

Símbolo de impunidade, a pizza de diversos sabores servida a cerca de 150 pessoas que fecharam a casa causou constrangimento.

- É emblemático para nós ter pizza no cardápio, justamente porque estamos sendo assados - disse um dos organizadores da festa, Sérgio Ribeiro, membro da direção estadual do partido, ainda na porta da churrascaria.

O ex-presidente do PT, José Genoino, e o ex-ministro José Dirceu foram convidados, antes ainda da decisão do STF que os incluiu como réus no caso do mensalão. Até o início da noite, ainda eram esperados, embora nenhum deles tivesse confirmado presença.

A decisão do STF foi alvo de críticas.

- Os companheiros precisam ser defendidos, já que não são culpados, são apenas réus - disse Jilmar Tatto, terceiro vice-presidente do partido.

O PT decidiu que não vai sequer discutir a punição aos mensaleiros em seu congresso que começa hoje.