Título: Calma, boneca!
Autor: Lima, Maria e Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 31/08/2007, O País, p. 13

Tasso Jereissati e Almeida Lima trocaram xingamentos em sessão marcada por brigas e ameaças

BRASÍLIA. Marcada pela balbúrdia, a sessão de ontem do Conselho de Ética contribuiu para erodir um pouco mais a imagem do Senado. Manobras para protelar votações, grosserias que quase terminaram em agressão física e desatenção absoluta durante a leitura dos relatórios deram o tom. Por pouco os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Almeida Lima (PMDB-SE) não trocaram murros. Depois de muito bate-boca, Tasso levantou-se da mesa e teve de ser contido pelos colegas Marconi Perillo (PSDB-GO) e Sérgio Guerra (PSDB-PE), enquanto Almeida Lima foi segurado pelos aliados do senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

A confusão começou porque Almeida Lima, um dos três relatores do caso Renan, insistia em apresentar um relatório separado do que seria apresentado pelos senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS), os outros dois relatores do processo, que pediram a cassação do mandato de Renan.

O senador Almeida Lima não aceitava que houvesse um relatório único e que seu parecer fosse apenas um voto em separado. Aliado de Renan, Almeida Lima, da mesa e exaltado, disse estar sendo cerceado pelos colegas e que não aceitava ser tratado como sub-relator.

Tasso levantou a voz e pediu calma, irritando o relator:

- No grito, não! A força do direito, sim, mas o direito à força, não. Se Vossa Excelência sabe bater na mesa eu também sei. Estão querendo me castrar - reagiu Almeida Lima.

Tasso provocou o senador, fazendo trejeitos femininos:

- Calma, boneca!

- Senador, esse trejeito não lhe fica bem - reagiu Almeida Lima.

Os dois continuaram trocando ofensas.

- Não aceito ser tratado como sub-relator, vocês são uns palhaços - disse Almeida Lima dirigindo-se aos tucanos.

Tasso ficou vermelho, levantou-se, começou a dar murros na mesa e a fazer sinais com punho fechado em direção a Almeida Lima.

- Você é um palhaço, deixa de palhaçada, rapaz, você é um vendido.

Encerrada a sessão, Almeida Lima disse que não se arrependia.

- Não houve sequer agressão física, nem palavras de baixo calão. Foi normal. Não vou me penitenciar por este fato em hipótese alguma.

Um momento mais ameno foi proporcionado pelos senadores Epitácio Cafeteira (PTB-MA) e Eduardo Suplicy (PT-SP). Cafeteira compareceu ao início da sessão para reiterar denúncia de que a jornalista Mônica Veloso teria tentado extorquir R$20 milhões de Renan Calheiros, com quem tem uma filha, para ficar em silêncio.

Eduardo Suplicy arrancou risos da platéia ao traçar um paralelo sugerindo que, por hipótese, tivesse envenenado o senador Gilvan Borges (PMDB-PA) e o assassinato houvesse sido testemunhado pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), presente ontem ao plenário do Conselho de Ética.

- Se o deputado tivesse me dito "Olha, Eduardo, se você não me der R$20 milhões, eu vou contar que vi você botar o veneno", essa extorsão não iria me inocentar de hipoteticamente ter... acho que todo mundo entendeu - concluiu Suplicy. (Maria Lima e Fernanda Godoy)