Título: Manobra e baixarias adiam votação sobre Renan
Autor: Lima, Maria e Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 31/08/2007, O País, p. 13

Casagrande e Marisa Serrano pedem cassação do mandato do presidente do Senado; Almeida Lima, a absolvição.

BRASÍLIA. Numa sessão em que os integrantes da tropa de choque renanzista tentaram todas as manobras possíveis para tumultuar e impedir a votação no Conselho de Ética, os relatores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) apresentaram parecer pedindo a cassação do mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os dois relatores concluíram que Renan mentiu em várias ocasiões, e quebrou o decoro parlamentar oito vezes. Contrastando com a ágil votação do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), os defensores de Renan conseguiram mais um adiamento.

Os senadores Wellington Salgado (PMDB-MG) e Gilvam Borges (PMDB-AP), aliados de Renan, pediram vista dos relatórios, e a votação só acontecerá na quarta-feira, com voto aberto. Almeida Lima (PMDB-SE), terceiro relator, muito exaltado, brigou, xingou e foi xingado, e, num voto em separado, pediu a absolvição de Renan.

Casagrande e Marisa disseram que não houve comprovação de que os recursos repassados à jornalista Mônica Veloso não se originaram da relação conflituosa com o lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Junior.

- O representado Renan Calheiros mentiu sobre sua capacidade de ter pago, com recursos que dizia possuir, suas obrigações pessoais(...). Jamais poderia ter colocado o Senado e o Congresso Nacional na situação que hoje se encontra, vexado perante a opinião pública e desacreditado pela população - descreveram Marisa e Casagrande na conclusão do relatório.

Sessão da semana que vem terá voto aberto

A confusão começou cedo, com a resistência do presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), em pôr em apreciação o requerimento de Marconi Perillo (PSDB-GO) pedindo a votação aberta. Durante toda a sessão, os parlamentares que não aceitavam o voto fechado, como recomendava o parecer jurídico lido por Quintanilha, pediram que ele decidisse sobre o assunto. Mas ele se calava e só dizia que o faria depois da leitura dos relatórios.

Casagrande alertou que ele poderia estar "plantando" uma nulidade que poderia ser usada por Renan numa futura contestação. Isso porque, com o voto fechado, o parecer deveria ser só descritivo. E seu relatório era conclusivo, com pedido de cassação. No final, o requerimento de Perillo foi aprovado por 10 a 5 e a votação, semana que vem, será aberta.

- Por que essa decisão tem que ser no escurinho do cinema? - provocou o líder do PSDB, Arthur Virgilio (AM).

Após os argumentos de José Nery (PSOL-PA), foi a vez do advogado de Renan, Eduardo Ferrão, com sua oratória teatral, contestar o parecer que pedia a cassação. Ele acusou a imprensa e até senadores de criarem um pano de fundo para desqualificar qualquer argumento do presidente do Senado:

- Não me recordo, na História, de alguém que tenha sido objeto do massacre e da chacina como Renan. E o pior: sem poder se defender. O Renan mostrou tudo, o que convinha e o que não convinha, mesmo o que viesse a ser usado contra ele. Mais do que a abertura de sigilo, foi uma verdadeira abertura de alma.

Em seu voto pela absolvição, Almeida Lima repetiu a justificativa de José Dirceu de que, no caso do mensalão, era um réu sem provas.

Marisa e Casagrande consideram que o resultado na decisão sobre o tipo de voto, é um indicativo de como dever ser a votação da semana que vem: 10 a cinco pela cassação.