Título: Mantega: crise pode afetar crescimento em 2008
Autor: Batista, Henrique Gomes e D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 31/08/2007, Economia, p. 33

Segundo ministro, Brasil terá receitas suficientes para cobrir o pagamento de despesas e de juros em dois anos.

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem, durante a segunda reunião ministerial do governo federal, que o Brasil poderá crescer menos em 2008 se a atual crise financeira internacional se acentuar e afetar significativamente a expansão mundial. Ele afirmou que esse seria o pior cenário mas que não acredita que ele ocorrerá:

- Tive que transmitir ao governo quais são as avaliações dos analistas e do mercado. Na pior das hipóteses, se houver uma desaceleração mundial, alguns analistas estimam que poderá haver uma redução do nosso crescimento em 2008 de 0,1 a 0,3 ponto do PIB (Produto Interno Bruto), o que não significa quase nada.

Ele afirmou que, por isso, está mantida a previsão de crescimento de 5% para a economia do ano que vem:

- Até agora, o Brasil está muito bem na turbulência e acredito que sairá bem dela.

O ministro voltou a salientar que a situação macroeconômica do país é muito sólida e que a expansão do PIB depende do mercado interno, aquecido, com nível de consumo 13% maior que no mesmo período de 2006:

Mantega dedicou especial atenção aos dados fiscais do país, comemorando a divulgação esta semana, pelo Banco Central, do menor déficit nominal (diferença entre receitas e despesas do governo, incluindo o pagamento de juros) desde 1991: em julho, o déficit nominal foi de 2,08% do PIB, contra 3,3% em julho de 2006 (no fluxo de 12 meses).

- Todas as variáveis econômicas conspiram para acelerar (a chegada) do déficit nominal zero - disse, completando que espera a marca para 2009.

Já à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, coube uma avaliação sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo ela, houve evoluções - especialmente em concessão de rodovias, linhas de transmissão, construção de hidrelétricas e saneamento - e já estão empenhados 32% do investimento prometido.

Dilma informou ainda que, em setembro, será divulgado o edital para a concessão de trechos já prontos da Ferrovia Norte-Sul, a um custo de R$1,4 bilhão. Começará ainda a ser negociada a aplicação, através de convênios, de R$900 milhões em saneamento em cidades entre 50 mil e 150 mil habitantes.

Índice de Confiança da Indústria bate recorde

Animados com o ritmo atual dos negócios, empresários e executivos do setor industrial estão otimistas e apostam no aumento da produção nos próximos meses. É o que mostra o Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que atingiu 121,8 pontos este mês, o nível mais elevado desde 1995, quando o indicador começou a ser medido. Realizada entre os dias 1 e 28, a sondagem da FGV não captou sinais de preocupação com a crise nos mercados financeiros internacionais.

- É interessante notar que o ânimo do setor industrial brasileiro não foi afetado pelas turbulências - assinalou o coordenador da Sondagem da Indústria de Transformação da FGV, Aloísio Campelo, ao apresentar o estudo.

Depois de um bom primeiro semestre, os dados da FGV confirmam que o setor segue aquecido: o Índice de Situação Atual manteve-se em 123,3 pontos, mesmo patamar de julho, e o quarto mais elevado desde o início da pesquisa. O destaque entre as condições atuais dos negócios foram os estoques.

Pela primeira vez desde 1995, o número de empresas que consideraram insuficientes seus estoques (7%) superou o das que disseram ter excesso de estoques (6%). O Nível de Utilização da Capacidade Instalada chegou a 85,7% este mês, também o maior em 12 anos.

Capacidade da indústria do RJ é a maior desde 1992

A utilização da capacidade instalada da indústria fluminense subiu de 80,5% para 82,1% no período, o melhor índice da série histórica, iniciada em 1992, de acordo com a pesquisa mensal Indicadores Industriais da Firjan, divulgada ontem.

As vendas reais da indústria aumentaram 1,76% em julho frente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal. Foi o segundo maior patamar do índice de vendas apurado este ano, superado apenas pelo resultado de maio. Já na comparação com julho do ano passado (o melhor mês de julho de toda a série histórica), as vendas recuaram 2,2%.

Pelo oitavo mês consecutivo, houve aumento do pessoal ocupado na indústria: 0,46% em julho em relação ao mês anterior. Esse foi o melhor resultado desde janeiro de 2001, com a criação de cerca de 1.800 novos empregos. O pessoal empregado em julho também superou o registrado no mesmo mês de 2006, com expansão de 5,2%.

- Os resultados da pesquisa indicam continuidade da recuperação da indústria, em resposta aos impactos positivos da redução dos juros, combinada com expansão do emprego e da renda - avalia Luciana de Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Firjan.