Título: Chávez e Uribe discutem acordo sobre as Farc
Autor:
Fonte: O Globo, 31/08/2007, O Mundo, p. 38

Presidente venezuelano chega hoje a Bogotá para atuar como mediador entre governo e guerrilha, após ligação de Sarkozy

BOGOTÁ. O conflito interno da Colômbia, que já extrapolou as fronteiras nacionais com refugiados buscando abrigo em países vizinhos e nações européias tentando ajudar numa solução, ganha mais um personagem: o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que desembarca hoje em Bogotá na tentativa de mediar um acordo entre guerrilheiros e o governo colombiano para a libertação de dezenas de reféns.

Durante a visita de seis horas, Chávez será recebido pelo presidente Álvaro Uribe na fazenda presidencial de Hato Grande, ao norte de Bogotá. A visita já começa marcada por expectativa e alguma polêmica. Segundo o jornal "El Tiempo", o desejo de Chávez de se reunir com parentes de reféns e de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) detidos não foi bem recebido por Bogotá e até ontem à noite não havia sido incluído na agenda.

Jornais dizem que Chávez recebeu proposta das Farc

A agenda se tornou o primeiro ponto de negociação sobre a visita em que os dois presidentes deverão discutir a troca de 500 presos por 45 reféns das Farc - entre eles a ex-senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt, seqüestrada em 2002. Ontem, Uribe recebeu um telefonema do presidente da França, Nicolas Sarkozy, a quem a família de Ingrid recorreu. Segundo fontes colombianas, o tema da conversa seria a possibilidade de um intercâmbio humanitário.

Na véspera, Sarkozy conversara com Chávez por telefone, a quem expressou "apoio completo" aos esforços para a libertação dos reféns. Sarkozy manifestou a Chávez sua vontade de "acompanhar seus esforços", informou o Palácio do Eliseu. Ele teria ainda pedido ajuda à Venezuela para obter provas de que Ingrid continua viva.

Segundo a imprensa venezuelana, Chávez já recebeu uma proposta das Farc para a troca de reféns e vai analisá-la com Uribe. O embaixador venezuelano em Bogotá, Pável Rondón, recusou-se a comentar o assunto, dizendo apenas:

- Peço que a Colômbia acredite que os dois presidentes estão trabalhando para encontrar a melhor solução.

Guerrilha vai entregar corpos de deputados

Há duas semanas, Chávez aceitou ajudar numa aproximação entre o governo colombiano e as Farc. A participação do presidente venezuelano foi pedida pela senadora colombiana de oposição Piedad Córdoba, que no dia 15 recebeu de Uribe autorização para servir como gestora, inclusive com as Farc, para um encontro com os rebeldes.

A mediação de Chávez despertou expectativa nas famílias dos reféns, algumas das quais se encontraram no dia 20 com ele, em Caracas. Mas a esperança esbarra na exigência da guerrilha, que quer a desmilitarização por tempo indefinido de dois municípios para negociar o acordo - algo que Bogotá não aceita.

Ontem a senadora Gloria Inés Ramírez, do opositor Pólo Democrático Alternativo, disse que o "chanceler das Farc", Rodrigo Granda, recebeu instruções da cúpula da guerrilha para negociar um acordo humanitário.

A chegada de Chávez a Bogotá ocorre um dia depois de o presidente venezuelano indultar 41 de 118 paramilitares colombianos acusados de um complô para matá-lo em 2004. Segundo Chávez, a libertação ajuda a estabelecer um clima favorável à negociação. As Farc, por sua vez, anunciaram que vão entregar amanhã os corpos de 11 deputados que mantinham em cativeiro. A guerrilha diz que eles foram mortos em fogo cruzado em junho, já o governo afirma que eles foram executados.