Título: Sem Lula, PT aclama Dirceu
Autor: Galhardo, Ricardo e Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 01/09/2007, O País, p. 3

Presidente adia ida a congresso do partido irritado com manifestações pró-mensaleiros.

Aabertura do 3º Congresso Nacional do PT, ontem, foi marcada pela ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que transferiu para hoje sua participação - e pela presença de acusados de integrar a "quadrilha" do mensalão, entre eles o ex-ministro José Dirceu, ovacionado pelos petistas. Lula teria ficado irritado ao saber que seu grupo político no PT, o antigo Campo Majoritário, pretendia fazer um desagravo aos mensaleiros. O presidente também ficou incomodado com a atitude de alguns setores do partido que defendem a formalização de uma candidatura própria para a sucessão presidencial em 2010.

- O presidente não quer que as decisões do STF contaminem o governo. Ele expressou claramente o desejo de que o congresso do PT não vire palco para a fulanização nem contra nem a favor dos acusados - disse um auxiliar de Lula.

Assessores do presidente e vários dirigentes petistas confirmaram que Lula não gostou das manifestações de defesa aos acusados que acabaram sendo feitas no congresso aberto ontem. O presidente gostaria que o assunto fosse deixado por conta da Justiça apenas, e não entrasse mais nos debates internos. Para Lula, o congresso petista deveria ser o espaço para o partido esquecer a crise e adotar uma agenda positiva preparando o terreno para a disputa de 2010.

Anteontem, integrantes do ex-Campo Majoritário, que agora se denominam da corrente Construindo um Novo Brasil, propuseram que o partido manifestasse formalmente o apoio aos acusados. Diante da reação contrária do presidente, a proposta não prosperou, mas isso não os impediu de ovacionar Dirceu, apontado pelo STF como o chefe da "quadrilha" do mensalão.

"STF não sofreu pressões", diz Lula

O presidente Lula levará uma mensagem de "ânimo" aos militantes e dirigentes, muitos dos quais contrariados com a decisão do Supremo Tribunal Federal. Ontem, em entrevista a órgãos regionais de imprensa, Lula insistiu na tecla de que "até agora não existem culpados ou inocentes" e destacou que as instituições estão funcionando de forma independente.

- O STF não sofreu pressões de nenhuma ordem, até porque os ministros não dependem do voto popular - disse ele.

Lula também reafirmou que o povo absolveu seu governo nas urnas:

- Tentaram colocar nas minhas costas o peso das denúncias, mas não conseguiram. O povo disse nas urnas que o governo tem combatido a corrupção como nunca antes.

Lula se queixou do tratamento da imprensa aos réus do mensalão:

- O que incomoda mesmo é ver a cara de companheiros estampada nos jornais como criminosos sem que tenham sido sequer julgados.

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), negou que o presidente tenha ficado irritado com sua própria corrente. Segundo ele, Gilberto Carvalho, assessor de Lula, lhe telefonou anteontem para mudar a forma de participação do presidente no Congresso. No entanto, até ontem à tarde o Palácio do Planalto ainda previa a presença do presidente no evento.

- O presidente julgou mais produtivo fazer um pronunciamento ao plenário do que apenas uma fala durante a abertura hoje (ontem) - disse Berzoini.

Hoje, no congresso do PT, Lula vai falar aos petistas também da necessidade de se manter a parceria entre os partidos da coalizão de governo para que marchem unidos rumo às eleições de 2010, ainda que o candidato a presidente não seja um petista. Será um balde de água fria para algumas tendências do PT, que apregoam que o partido deve ter candidato próprio à Presidência, não se importando com outros nomes.

O presidente já deixou claro que quer influenciar nos rumos de sua sucessão e que não necessariamente o candidato da base deva ser do PT, embora ele defenda que o partido tenha nomes para poder negociar.

O que Lula teme é que, se o PT insistir desde agora que não abre mão de ser cabeça de chapa em 2010, a coalizão de 11 partidos que o apóiam no Congresso comece a se desmanchar ou até mesmo chantagear, provocando dor de cabeça para o Planalto.

Em seu discurso, o presidente também dirá que a estabilidade econômica e as conquistas sociais ocorreram com a ajuda do PT, embora correntes à esquerda tenham defendido, durante o primeiro mandato, uma maior flexibilização e até mesmo a demissão do ministro da Fazenda na ocasião, Antonio Palocci.

COLABOROUAgência A Tarde