Título: Palhaços animam, imprensa é afastada
Autor: Farah, Tatiana e Freire, Flávia
Fonte: O Globo, 01/09/2007, O País, p. 4

Jornalistas ficaram isolados e vigiados por segurança.

SÃO PAULO. Enquanto o circo pegava fogo em meio a discursos inflamados, dois palhaços faziam a festa do público menos interessado nas discussões sobre o socialismo e os rumos do PT. Se a imprensa teve acesso restrito - jornalistas que faziam a cobertura do congresso petista eram vigiados por seguranças em área apelidada de "chiqueirinho" -, os palhaços contratados pelo PT tiveram trânsito livre. Charles, codinome do ator Alessandro Azevedo, entrava e saía do prédio sem que precisasse de credencial. Usava apenas nariz e sapato de palhaço, além de maquiagem, blazer e bermuda.

A caráter, Charles e Tchutchuco distraíam petistas na área externa do pavilhão, dividindo o local de cena também com mais dois atores que contavam histórias ao som da trilha sonora do filme "A vida é bela". A dupla de dançarinos de "break" também puxava aplausos. As atrações faziam parte das atividades culturais paralelas ao congresso nacional do PT.

Menos de cinco minutos após o primeiro discurso, Charles deixou a platéia, onde dividia espaço com os petistas José Genoino e João Paulo Cunha.

- Enquanto lá dentro eles falam de socialismo, aqui fora o negócio é feito com cartão de crédito - brincava o palhaço, sobre as várias maquininhas de operadoras usadas nas barracas montadas para vender, entre outros produtos, livros de psicologia, camisetas do partido, miniaturas de garrafa de cachaça e artesanato. A falta de comércio na região inflacionou os preços. Um copo de água-de-coco custava R$2,50. O almoço tinha o preço tabelado: R$18,00. Para comer penne parisiense com arroz e feijão, foi preciso enfrentar fila de pelo menos 50 metros. Os poucos deputados que se arriscaram a dividir o espaço com jornalistas faziam questão de pedir nota fiscal.

A barraca que mais fez sucesso foi a que vendia camisetas com frases como: "Pagar a dívida externa também é corrupção". A proprietária preferiu não falar muito mais sobre que outro tipo de corrupção poderia estar embutido naquele raciocínio. As camisetas, confeccionadas em preto e branco, custavam em média R$20. O preço dependia da frase.

Para participar, segundo os organizadores, cada convidado desembolsou R$2 mil. Eram esperadas quatro mil pessoas, mas apenas 900 se inscreveram. Genoino e João posaram para fotos com petistas por quase 20 minutos.