Título: Mensaleiros circulam à vontade e recebem solidariedade de petistas
Autor: Farah, Tatiana e Freire, Flávia
Fonte: O Globo, 01/09/2007, O País, p. 4

João Paulo Cunha, também réu, diz que decisão do STF não está sob suspeição.

SÃO PAULO. Temido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Lula, o ato de desagravo aos petistas réus no processo do escândalo do mensalão acabou sendo direcionado principalmente ao ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, durante o 3º Congresso Nacional do partido. Ele foi ovacionado por ato puxado por quase mil pessoas que lotavam o evento do PT. O ex-ministro, apontado como o mentor da "quadrilha" do mensalão, cumprimentava, tirava fotos e dava autógrafos para alguns dos petistas que participavam da abertura quando o auditório começou a gritar seu nome.

Dirceu, que não compôs a mesa de autoridades do partido, mas tinha assento na primeira fila da platéia, levantou-se, ergueu um dos braços e sorriu. A manifestação de apoio aconteceu sem que nenhum dos oradores fizesse qualquer menção ao ex-ministro. O deputado Arlindo Chinaglia era o primeiro a discursar na solenidade de abertura do evento quando a multidão resolveu homenagear Dirceu.

O ex-ministro entrou pela lateral do centro de convenção. Havia uma preocupação entre parte da cúpula petista se a figura dele causaria constrangimento. Dirceu entrou no lugar depois que a maioria aprovou a tese do movimento Construindo um Brasil Melhor, que tem em Dirceu o seu maior expoente. Ele foi uma das últimas estrelas petistas a chegar no local, por volta das 20h. Em rápida conversa com jornalistas, descartou a necessidade de atos de solidariedade do PT ou de Lula:

- Lula é presidente do Brasil, eu sou acusado e me defendo. O PT é o PT, e tem de cuidar do PT.

Outros acusados do mensalão circulavam também com desenvoltura pelo Centro de Convenções Imigrantes. Entre eles, Paulo Rocha, Professor Luizinho, José Genoino, João Paulo.

"Espero que esse calvário termine rápido"

João Paulo Cunha (PT-SP), que na noite anterior fizera uma "pizzada" em sua própria homenagem, afirmou que o caso já causou danos ao partido e que não deveria ser abordado nos discursos dos dirigentes:

- O PT já foi muito prejudicado com isso nas eleições. E apoio nós temos tido, ninguém pode dizer que não.

Ex-presidente da Câmara, João Paulo afirmou estar vivendo um "calvário":

- Espero que esse calvário termine rápido. Vocês não sabem como isso é pesado. Eu deixaria todos os meus mandatos, toda a minha militância para não passar por isso.

O ex-deputado discordou de Dirceu, que colocou sob suspeição a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de acolher as denúncias contra 40 pessoas envolvidas no mensalão.

- De fato, houve pressão da imprensa, mas não há suspeição.

Recebido com abraços, beijos e tapinhas nas costas, o deputado José Genoino (PT-SP) foi o mais refratário à imprensa. Aceitou falar apenas o que disse na tribuna da Câmara:

- Não recebi nada. Estou de cabeça erguida. Não ofereci benefício. Moro há 24 anos na mesma casa.

Perguntado se era favorável ao desagravo, apenas riu. Perguntado se falaria de política, disse que estava no congresso como "observador".

O ex-deputado Luizinho (PT-SP) esquivou-se da imprensa e foi figura apagada entre os petistas. O deputado José Mentor, que chegou a ser mencionado mas não foi denunciado pelo STF, soltou a voz no microfone para criticar a imprensa, o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal.

- Temos que discutir o papel da imprensa nesse país, que em vez de noticiar, faz campanha contra o PT. É um jogo desproporcional. Temos que discutir o papel do Ministério Público Federal e do Judiciário.

Presidente do PT gaúcho e ex-ministro, Olívio Dutra defendeu que o mensalão ficasse fora da pauta. Mas disse que o PT deve criar mecanismo de controle, como uma corregedoria.