Título: PT: o desafio do reencontro
Autor: Viana, Jorge
Fonte: O Globo, 01/09/2007, Opinião, p. 7

O Partido dos Trabalhadores chega ao seu 3º Congresso com um desafio tão grande quanto tem sido a própria história do PT. São 27 anos de um partido que ajudou a consolidar nossa democracia e a mudar o Brasil. Uma história de acertos e erros, mas onde não consta a omissão nas dificuldades nacionais nem a fuga dos seus problemas internos.

Assim chegamos ao nosso 3º Congresso com um novo ponto de pauta, ditado pela decisão do Supremo Tribunal Federal, quando acatou denúncia contra algumas das nossas principais lideranças. Uma decisão política, sim, pois todas as decisões da Suprema Corte são tomadas com base na lei, mas são políticas. Em conseqüência, virá longa polêmica de provas e será o PT quem ficará exposto, inclusive pela responsabilidade de exigir um processo justo.

No governo, o PT parece que sabe lidar com a condição de ser governo. Para nós, sucessão é sempre um problema. É verdade que reelegemos o presidente Lula, mas, numa federação de 27 estados, temos uma única experiência estadual de terceiro mandato, justamente no Acre. Isso só pode ser reflexo de uma cultura de oposição que alimenta a disputa interna, nem sempre positiva. Às vezes nos digladiamos ao ponto de esquecer que o poder só vale a pena como instrumento para realização do sonho de cidadania, justiça e inclusão social que nos trouxe até aqui.

Há quem diga que os méritos do governo são bônus exclusivos do presidente Lula, enquanto os erros, ônus do PT. Claro que o partido é fundamental, mas acho justo reconhecer que sobrevivemos até aqui muito à custa do trabalho do companheiro Lula. Foi a ele que recorremos para disputar todas as cinco eleições presidenciais realizadas desde a redemocratização do país. Mas em 2010 o PT vai precisar se arranjar sem o nome, o carisma, a história de vida e a capacidade de liderança que Lula sempre emprestou ao partido. Quando chegar a hora, o PT estará preparado para uma política de alianças num quadro tão diferente?

O partido do presidente tem o dever de buscar a liderança da sua sucessão, construindo uma candidatura capaz de defender o projeto iniciado no governo Lula e de unir as forças do campo democrático e popular.

Devemos garantir o apoio que o presidente Lula precisa para concluir com sucesso o segundo mandato, fazendo o Brasil crescer, consolidando conquistas populares como o maior programa social já realizado na nossa história, gerando empregos, salário mínimo de 200 dólares e a inclusão de grande parte da população que antes vivia na miséria absoluta.

Nosso compromisso maior continua sendo com os pobres, com a inclusão social. Mas também precisamos cuidar dos desafios contemporâneos do Brasil e do mundo moderno. Governamos para todos e não se faz inclusão praticando a exclusão. A classe média precisa de atenção especial. O propósito de combater os privilégios e as elites atrasadas não nos dá o direito de excluir ninguém. A ponte entre o governo e aqueles que têm é necessária para se chegar com mais eficiência àqueles que não têm.

No governo do Acre, aprendemos a importância do resgate da identidade histórica e cultural de uma sociedade. Recuperamos o orgulho e a auto-estima do povo acreano. Com o povo de cabeça erguida, foi possível enfrentar e vencer muitos problemas, alguns dados como insolúveis. No plano nacional não é diferente. Com patriotismo, ética e solidariedade podemos fazer do Brasil um país mais justo e mais influente no concerto das nações.

Acho que Câmara Cascudo foi o primeiro a dizer que o melhor do Brasil é o brasileiro. Também acho que o melhor que o PT pode buscar para voltar a ser sinônimo de honestidade e ética na política está guardado na sua própria história.

O desafio do 3º Congresso é fazer o PT se reencontrar com a sua história e com o povo brasileiro.

JORGE VIANA, delegado ao III Congresso do PT (PT), foi prefeito de Rio Branco e governador do Acre.