Título: PT faz mea-culpa e admite erros por 'ambição'
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 01/09/2007, O País, p. 8

Ex-Campo Majoritário, que fala em caixa dois e crise, consegue aprovar três teses e derrota correntes adversárias.

SÃO PAULO. No primeiro dia de discussões, o 3º Congresso Nacional do PT confirmou a ampla maioria do grupo Construindo um Novo Brasil, ex-Campo Majoritário - grupo do ex-ministro José Dirceu e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As três teses apresentadas por ex-ministros e assessores da cúpula do governo Lula foram vitoriosas no embate com as defesas feitas pelas cinco outras correntes petistas. A ligação com Dirceu, réu do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, não impediu a autocrítica: em defesa de tese feita pelo ex-ministro da Saúde Humberto Costa, o ex-Campo Majoritário admite erros e que o PT vive uma crise.

O partido identifica como erros cometidos em 2003 o envolvimento com o financiamento de campanha dos partidos aliados: "O PT errou, também, ao envolver-se, sem o devido debate interno, com o financiamento de campanhas de aliados e assumir riscos graves em relação às finanças do partido. Um ambicioso projeto de poder político para as eleições de 2004, que incluía a tentativa de eleger centenas de prefeitos em todo o país, e, conseqüentemente, a necessidade de fundos para a sua concretização, contribuíram para o esforço temerário de buscar recursos de forma diferente daquela que o partido tradicionalmente utilizou. O padrão das campanhas eleitorais em 2004 ampliou a necessidade de recursos financeiros ao mesmo tempo em que a mobilização da militância foi deixada em segundo plano", diz trecho da tese aprovada no início da noite.

- Essa crise, que é do sistema político brasileiro, que enfraquece programas e partidos, também é uma crise do PT, decorrente de opções feitas pelo partido, do crescente acesso a mandatos, do distanciamento das lutas sociais e da nebulização de nosso projeto estratégico - leu o ex-ministro.

O texto, aprovado pela maioria dos delegados em votação visual, reconhece ainda que "parte da crise se deveu a um processo de entendimento inadequado da relação partido e governo já no início da gestão Lula". Em outro trecho, diz: "Erramos também na forma de consolidação da nossa base de sustentação político-parlamentar". No mea-culpa, o ex-Campo Majoritário sustenta que em 2003 o partido deveria ter procurado no PMDB o alicerce para sua base política no Congresso. "Ao invés disso, optamos por alianças congressuais com pequenos partidos, de ampla diversidade ideológica e forte heterogeneidade".

Ao apresentar a tese, Costa sustentou que não há governo mais ou menos ético. E que o PT precisa aprender com a crise. O ex-ministro da Reforma Agrária Miguel Rosseto, que defendeu a tese derrotada "Mensagem ao Partido", em acordo com o ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu a existência de uma corregedoria e de um código de ética no partido.

- Não é justo dizer que a responsabilidade pelos erros é de todo o PT. Avançamos na democracia interna - disse Rosseto.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, foi o escolhido para sustentar, pelo ex-Campo Majoritário, a tese sobre "O Brasil que nós queremos". Ele fez um balanço elogioso do governo Lula e sustentou que falta ao país uma reforma política que garanta a aprovação de projetos.