Título: Primeiro Emprego: R$10 milhões para 9 mil vagas
Autor: Doca, Geralda e Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 01/09/2007, O País, p. 14

Programa, agora extinto, consumiu quase um terço da verba total de publicidade do Ministério do Trabalho.

BRASÍLIA. O programa Primeiro Emprego, anunciado como uma grande aposta do primeiro mandato do governo petista e que acaba de ser oficialmente extinto, gastou mais de R$10 milhões em publicidade e gestão, tendo produzido ao longo dos últimos quatro anos e meio pouco mais de 9 mil vagas para jovens. Desde 2003, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), foram gastos R$4,7 milhões em publicidade - quase um terço da verba total do Ministério do Trabalho para este fim - e outros R$5,4 milhões com a gestão do programa. O valor corresponde a 75% do incentivo total repassado às empresas, de R$15,9 milhões, por terem contratado os 9 mil jovens. A meta era de 260 mil por ano.

Governo reforçará Projovem, também de resultado fraco

Diante do fiasco da iniciativa, o presidente Lula reforçará com outras ações o Projovem, outro programa destinado à juventude, mas com resultados também pouco efetivos e de alto custo. Segundo o Siafi, o governo gastou R$9,5 milhões em publicidade e outros R$53,8 milhões em despesas operacionais com o Projovem. O total representa 11,5% dos R$552 milhões aplicados pelo projeto até agora.

- Não se justifica um gasto tão alto num programa que visa a uma transferência de renda junto à prestação do serviço, no caso educacional - disse Leonardo Rolim, consultor de orçamento na área de Trabalho e Previdência da Câmara.

Ao ser lançado em 2005, o Projovem ofereceu 213 mil vagas, com bolsa de R$100 por mês a desempregados de 18 a 24 anos que não tenham concluído sequer o ensino fundamental, nas capitais e regiões metropolitanas, para que retomem os estudos. Mas somente 176 mil jovens desempregados foram atendidos até hoje, segundo a Secretaria Nacional de Juventude. Eles fazem supletivo e cursos profissionalizantes.

PAC da Educação tem meta de qualificar 6 milhões de jovens

O governo diz que o Projovem será reformulado para abarcar ações de vários ministérios e será relançado pelo presidente Lula na próxima semana. Chamado de PAC da Educação, o projeto terá R$7,3 bilhões de 2008 a 2011 (R$652 milhões no próximo ano) e tem como meta qualificar 6 milhões de jovens, entre 15 e 29 anos.

Segundo o governo, o Brasil tem 50,5 milhões de jovens na faixa de 15 a 29 anos, dos quais 4,5 milhões não concluíram o ensino fundamental e estão fora da escola. Especialistas apontam como urgentes os investimentos em educação. O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, diz que é preciso articular ações educacionais e socioeconômicas para levar essa juventude de volta à escola. Ele elogia a decisão do governo de pagar um benefício extra do Bolsa Família aos jovens pobres de 16 e 17 anos, desde que estudem.

- Para o jovem estudar no Brasil, ele tem que trabalhar. Quando trabalha, porém, ele tem dificuldade de acompanhar o estudo. Sem perspectiva de estudo e trabalho, o jovem é mais vulnerável para a ilegalidade. Corremos o risco de perder uma geração - diz Pochmann.

O pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, diz que é preciso melhorar a qualidade da escola pública e garantir aos jovens a conclusão dos ensinos fundamental e médio.

- Grande parte da juventude não tem qualificação. O mercado exige educação básica completa. Sem isso, a chance de obter emprego é muito baixa.

Ele aposta que a extensão do Bolsa Família aos jovens não terá impacto educacional:

- A culpa pelo abandono está na escola, que é muito ruim. Esse programa é redistribuição de renda. Do ponto de vista educacional, não tem nenhum impacto.