Título: IBGE: maioria dos municípios está encolhendo
Autor: Otávio, Chico
Fonte: O Globo, 01/09/2007, O País, p. 18

Dados mostram que 3.472 cidades brasileiras perderam população; pesquisa baseia partilha de recursos de fundo.

O IBGE concluiu, ao contar este ano a população de 5.435 municípios brasileiros, que 3.472 dessas cidades perderam população em comparação ao ano anterior. Como os dados da contagem servirão de base para o Tribunal de Contas da União fazer a partilha dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) de 2008, o instituto anunciou ontem que fará uma rechecagem de dados antes da publicação definitiva dos resultados, prevista para o dia 24 de setembro.

A contagem do IBGE abrangeu municípios com até 170 mil habitantes (apenas 21 municípios visitados tinham mais de 170 mil habitantes). Juntos, eles somam pouco mais de 105 milhões de brasileiros. Os resultaram mostraram que, do total, 1.963 ganharam população e 3.472 perderam.

Entre os municípios que encolheram, 3.339 tiveram redução de moradores de até 10 mil pessoas; 110 perderam entre 10 mil e 30 mil; 11 perderam entre 30 mil e 50 mil; e 12 cidades perderam mais de 50 mil habitantes. O IBGE não forneceu os nomes dos municípios que perderam porque os resultados são parciais.

Recenseadores encontraram 18% dos domicílios fechados

O presidente do instituto, Eduardo Pereira Nunes, disse que o IBGE decidiu rechecar os seus números porque os recenseadores encontraram 18% dos domicílios fechados. Os 5.435 municípios visitados representam pouco mais de 105 milhões de brasileiros, que vivem em quase 34 milhões de domicílios.

- Sabemos que há morador nos domicílios fechados, razão pela qual resolvemos voltar. Por conta das dificuldades da vida nas cidades, o acesso ao morador é cada vez mais difícil. Muitas vezes, ele não recebe o recenseador porque teme estranhos, em certos casos por orientação do síndico ou porque o porteiro impõe barreiras. Há casos em que os habitantes passam o dia todo no trabalho - disse Eduardo.

Teresina foi uma das cidades onde o IBGE enfrentou mais problemas. Até o momento, moradores de mais de 6 mil domicílios da capital piauiense não foram localizados. O instituto pediu a ajuda do poder público local para mobilizar a população.

A obrigação legal de fornecer os dados para a divisão do Fundo é uma dor de cabeça para o IBGE. Como a partilha obedece a um critério em que os municípios são divididos por faixas populacionais, os prefeitos cujos municípios encolhem ou não crescem tanto quanto o esperado para mudar de faixa questionam os resultados do instituto.

- Não entendo o critério das faixas. Melhor seria que cada cidadão correspondesse a um coeficiente e, a partir da soma das populações, se chegasse a um valor para cada município - alegou o presidente.

Prefeituras têm 20 dias para contestar os dados

As prefeituras serão notificadas e têm 20 dias para reclamar da contagem do IBGE. No dia 24 de setembro, saem os dados completos, com as grandes cidades. Em seguida, até 15 de outubro, novo prazo para contestações.

Embora o IBGE não tenha divulgado a relação, cidades fluminenses como Japeri, Araruama, Resende, Trajano de Morais e Areal estão entre as que perderam população. Por outro lado, Rio das Ostras está entre os municípios que mais receberam população.

Outra conclusão da contagem populacional do IBGE foi a queda da taxa de fecundidade no país, inclusive na área rural. O número de moradores por domicílio, que era de 3,92 no ano do último censo, em 2000, passou para 3,53. Duas razões explicam a queda da taxa de fecundidade no campo: a migração de jovens para as cidades e a mudança cultural da sociedade, já que as famílias têm tido menos filhos.

- A taxa de fecundidade no meio rural está se aproximando dos números identificados anteriormente nas áreas urbanas - disse Eduardo.

População envelheceu, segundo os dados

Com a redução do número de nascimentos e o aumento da expectativa de vida, confirma-se o envelhecimento da população brasileira. Já são mais de dez mil pessoas com mais de cem anos no país. Segundo o presidente do IBGE, o mapa demográfico do Brasil era, há 50 anos, semelhante ao do continente africano. E as projeções indicam que, daqui a 40 anos, ele será muito parecido com o da França, principalmente pelo envelhecimento da população.