Título: Bush promete socorro a mutuários nos EUA
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 01/09/2007, Economia, p. 35

Governo anuncia medidas para conter crise do "subprime", levando otimismo aos mercados.

Opresidente George W. Bush anunciou ontem uma série de medidas para ajudar mutuários em dificuldades com suas hipotecas, por meio da Administração Federal de Habitação (FHA, na sigla em inglês), sua primeira resposta à crise do crédito provocada pelos financiamentos imobliários de alto risco (subprime). Entre as medidas, a ampliação do respaldo aos mutuários que têm bom histórico de crédito, a eliminação do adiantamento de 3% da dívida no refinanciamento e a suspensão temporária do imposto incidente sobre a redução do valor da hipoteca. Ao lado dos secretários Henry Paulson, do Tesouro, e da Habitação e Desenvolvimento Urbano, Alphonso Jackson, Bush pediu ao Congresso que aprove as medidas. A proposta repercutiu bem nos mercados.

Para evitar a impressão de que a proposta visa a amortecer o impacto sobre a economia americana da crise do subprime, Bush ressaltou que a ajuda é limitada:

- A crise no mercado de hipotecas subprime é modesta diante do tamanho da economia americana, mas para quem tem família em dificuldades não parece pequena. Por isso, o governo tem um papel a desempenhar, mas limitado - disse Bush. - A função do governo não é apoiar especuladores nem ajudar quem tomou empréstimos maiores do que poderia pagar. Mas há muitos mutuários que podem enfrentar esse momento difícil com um pouco de flexibilidade de seus credores ou com uma pequena ajuda do governo.

A primeira impressão de quem acompanhou o mercado financeiro no Brasil ontem era a de que a crise teria passado. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ficou em alta o dia todo e encerrou com variação positiva de 3,37%, zerando as perdas no mês. No acumulado de agosto, subiu 0,84%. Já o dólar recuou 0,51% e encerrou cotado a R$1,964, ainda com alta de 4,30% no mês. A queda ontem só não foi maior por ser o último dia do mês, quando os investidores brigam para formar a Ptax, taxa de câmbio usada na liquidação dos contratos negociados no mercado futuro com vencimento no mês, avalia o gerente de câmbio do Banco Prosper, Jorge Knauer. Segundo a consultoria Economática, no mês somente na Colômbia o dólar teve valorização superior à do Brasil: 10,21%. O risco-Brasil caiu 3,94% no dia - e 8,45% no mês -, para 195 pontos centesimais. Mas, para saber se essa impressão vai se manter, será preciso ver o quão concreto o pacote anunciado por Bush será, dizem analistas.

- Não dá para dizer que o jogo está acabado, quem está inadimplente (nas hipotecas subprime) vai continuar, vai renegociar. Mas, pela primeira vez, o Bush fez discurso para mostrar que o sistema não vai quebrar, e o Fed ainda pode reduzir os juros - disse o superintendente de renda variável da Banif Corretora de Valores, Nami Neneas.

Com os R$6,034 bilhões movimentados pela Bovespa ontem, esta encerrou o mês com recorde histórico de movimentação: R$108,8 bilhões, ou US$55,1 bilhões, segundo a Economática, pela primeira vez acima dos R$100 bilhões em um mês.

- Essa intervenção não acaba com a crise, mas dá um bom sinal de que não vão deixar o sistema degringolar. É do que o mercado precisava - disse André Segadilha, gerente de análise do Prosper. - Mas a volatilidade continua.

O Dow Jones subiu 0,90% e o Nasdaq, 1,21%. Além de Bush, o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, contribuiu para o otimismo. Em simpósio do Fed, Bernanke afirmou que a autoridade monetária "vai agir à medida que for necessário para conter os efeitos adversos que possam surgir da turbulência nos mercados". Isso renovou a aposta em um corte de juros na próxima reunião do Fed, dia 18, apesar de Bernanke ter feito um alerta:

- Não é responsabilidade do Federal Reserve proteger aqueles que concederam empréstimos e os investidores das conseqüências de suas decisões financeiras.

Dean Baker, diretor do Centro de Pesquisa de Política Econômica, acha que as propostas podem não funcionar:

- Bush quer que os financiadores abram mão dos 3% exigidos para refinanciamento e ainda aceitem renegociar hipotecas de casas que perderam parte de seu valor de mercado. Ora, que financiador vai querer isso? E se o governo usar dinheiro dos impostos para bancar esse prejuízo, então os contribuintes estarão pagando a conta de quem não conseguiu arcar com as suas prestações.

John M. Robbins, diretor da Associação dos Financiadores Imobiliários, disse que a crise exige reforma do sistema habitacional, mas é preciso garantir o bom funcionamento do mercado como um todo.

COLABOROU Felipe Frisch

PACOTE DE BUSH REDUZ PRESSÕES SOBRE FED POR CORTE DE JUROS, na página 36