Título: Pacote de Bush reduz pressões sobre BC americano por corte de juros
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 01/09/2007, Economia, p. 36

Atuação do Fed poderia criar ingredientes para nova bolha financeira.

RIO e BRASÍLIA. A decisão do presidente George W. Bush de lançar um plano de ajuda para mutuários de hipotecas de alto risco servirá para atenuar as pressões sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Para especialistas, trata-se não só de um esforço para conter a crise no mercado financeiro e evitar seu contágio sobre o crescimento americano, como também de uma tentativa de retirar o Fed da encruzilhada em que se encontra.

Para o economista Ricardo Amorim, chefe de Pesquisa para América Latina do banco de investimentos WestLB em Nova York, a recuperação dos mercados, iniciada logo após o anúncio de Bush, pode ser temporária. Ele explica que, diante do pacote de ajuda do governo, aumentam as chances de o Fed não reduzir a taxa de juros na intensidade e freqüência que os analistas do mercado prevêem.

Uma sinalização nesse sentido na próxima reunião do comitê de política monetária do Fed, a ser realizada no dia 18 de setembro, poderá trazer novas turbulências aos mercados, avalia Amorim.

- O Fed está diante de uma decisão difícil. Se corta os juros ou injeta muitos recursos no mercado, poderá criar os ingredientes para uma nova crise no futuro. Se não reagir, pode levar os Estados Unidos a uma recessão.

Amorim explica que o presidente do Fed, Ben Bernanke, teme repetir o erro de seu antecessor, Alan Greenspan, que, após a moratória russa e a crise do fundo LTCM, em 1998, injetou muitos recursos no mercado. Criou-se então um excesso de liquidez (dinheiro em abundância), que propiciou a bolha de nova tecnologia, levando a uma nova crise, em 2000.

A taxa básica de juros dos EUA está hoje em 5,25%. O mercado espera que, até o fim do ano, o Fed faça três cortes de 0,25 ponto percentual na taxa que, assim, chegaria em 4,5% até o fim do ano.

Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, também vê o Fed diante de uma tarefa difícil. Na sua opinião, como indicou Bernanke em seu discurso ontem, um corte de juros só será motivado por um desaquecimento da economia americana, ou se o Fed avaliar que a crise nas hipotecas de risco terá impacto no crescimento dos EUA.

Ministro Guido Mantega comemora medidas

- As medidas anunciadas ontem pelo governo foram uma ação coordenada para tentar atenuar o problema das subprime (hipotecas de risco). Se a política fiscal (o pacote do governo) aliviar a insolvência pode ser que o Fed não veja necessidade de cortar os juros. Mas é muito cedo para avaliar isso - diz Salomon.

Para Amorim, do WestLB, a recente turbulência nos mercados tende a ser passageira. Mas só será possível saber se as bolsas e os demais ativos sairão desse período de ajuste após a próxima reunião do Fed. O economista acredita que o pacote anunciado pelo governo ontem vai na direção correta, ou seja, tenta evitar o primeiro estágio de um possível contágio das hipotecas de risco sobre a economia: o mercado de crédito.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou as medidas de Bush e as declarações de Bernanke:

- Já há um clima melhor no mercado, e o pessimismo está diminuindo. Com essas medidas anunciadas, a chance de que essa turbulência tenha reflexos no Brasil se atenua.

COLABOROU Henrique Gomes Batista