Título: Bolívia desvia gás e favorece estatal
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 01/09/2007, Economia, p. 37

Maior demanda leva a corte do insumo que deveria ir para argentinos.

LA PAZ E CUIABÁ. O governo boliviano decidiu cortar parte do gás enviado à Argentina para atender a demanda crescente do Brasil. De acordo com o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Carlos Villegas, o Brasil notificou o país ontem de que será necessário elevar o fornecimento de 28 milhões de metros cúbicos diários para 30 milhões de metros cúbicos por dia para a Petrobras. Para cumprir com o compromisso, o abastecimento de gás da Argentina e de outros clientes brasileiros será prejudicado.

Segundo o jornal boliviano "La Razón", deixarão de ser enviados à cidade de Cuiabá, onde uma termelétrica é abastecida com gás boliviano, entre 600 mil metros cúbicos diários e 1,1 milhão de metros cúbicos por dia. O fornecimento à Comgás, distribuidora estadual de gás de São Paulo, também poderá sofrer queda. A preferência de abastecimento para a Petrobras foi estabelecida no contrato firmado entre a empresa e a estatal boliviana YPFB, em 1996.

- Não podemos reduzir (o fornecimento) porque há uma cláusula de penalidade no contrato - afirmou Villegas.

Gás boliviano é insuficiente para atender contratos

A Bolívia produz 41 milhões de metros cúbicos diários de gás e precisaria de 45,5 milhões para atender todos os contratos em vigor. A Usina Termelétrica Governador Mário Covas, em Cuiabá (MT), é uma das prejudicadas. Desde junho, ela trabalha com metade da capacidade instalada porque o volume de gás estabelecido em contrato teve de ser revisado para baixo. Em nota, a Empresa Produtora de Energia (EPE), que opera a térmica, afirmou que "problemas operacionais" em campos bolivianos poderão afetar o fornecimento de gás.

O secretário de Indústria do Mato Grosso, Alexandre Furlan, por sua vez, afirmou ser "difícil lidar com a insegurança jurídica boliviana".

COLABOROU Anselmo Carvalho Pinto, especial para O GLOBO