Título: Um novo PT?
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 03/09/2007, O Globo, p. 2

O congresso petista realizado no fim de semana ainda não permite vislumbrar se o partido, de fato, fez uma autocrítica dos seus erros. A aclamação feita ao ex-ministro José Dirceu, comandante político do PT até o escândalo do mensalão, coloca em dúvida o reconhecimento de que foi equivocado financiar campanhas aliadas em 2004 e ter assumido a tarefa de compor o governo em 2003.

Os petistas deram uma sinalização dúbia ao condenar os erros no papel e, na vida real, festejar a encarnação dos equívocos políticos cometidos. Somente a prática futura dirá se o partido aprendeu ou não com os erros no caso mensalão.

Mesmo assim, os petistas saíram do congresso acreditando que o partido passa por uma profunda renovação. O deputado Henrique Fontana (PT-RS), da tese Mensagem ao Partido, avalia que a Unidade na Luta, a tendência majoritária, não é mais um bloco monolítico. O Campo Majoritário, construído por Dirceu, também não existe mais.

A tendência Movimento PT procura construir um caminho próprio e os seguidores da ministra do Turismo, Marta Suplicy, se organizaram em torno da tese Novos Rumos e da tendência PT de Lula e de Massas. Integrante da Unidade na Luta, o deputado Carlito Merss (PT-SC), reconhece que não existe mais no partido uma ampla maioria.

O grupo de Dirceu não consegue mais conduzir com mão-de-ferro e o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), chamuscado pelo Dossiê Vedoin, tem dificuldades para se reeleger nas eleições diretas que se realizarão nos dias 2 e 9 de dezembro. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) diz que é preciso construir um nome à Presidência da República que dê personalidade política e represente a força do partido.

O congresso, devido às regras para eleição de delegados, de acordo com os petistas que não são da tendência majoritária, não conseguiu medir a nova correlação de forças internas. Será preciso aguardar as eleições diretas para que se possa ter a dimensão das mudanças e atestar a existência ou não de renovação. A expectativa dos que querem renovar o partido é a de que o voto direto da militância atenue o poder da maior tendência. Argumentam que na primeira eleição direta Dirceu teve 54% dos votos e que na segunda, em 2005, a votação do candidato da Unidade na Luta, Ricardo Berzoini, caiu para 42% dos votos.